25.1.09
O Festival da Canção no meu tempo
Quando era puto gostava tanto de conguitos como apreciava o Festival da Canção. Infelizmente, nem uns nem outro voltaram a ser os mesmos. O Festival da Canção era aquele momento mágico da grelha de programação da nossa RTP, que nessa altura se via e desejava para apresentar programas de variedades com alguma qualidade (excepção para o mítico Sabadabadu). Havia o humor sem malícia, do Nicolau Breyner, do Raúl Solnado, do Badaró. As legendas eram gordas como chaputas do Tejo e tremiam no ecrã. Os bons filmes escasseavam e só eram vistos anos depois de terem estreado no cinema. E era se não apresentassem cenas eventualmente chocantes, porque aí logo os grupos radicais que defendiam a moral e os bons costumes surgiam à tona para porem o país na ordem. Ah, bons tempos!
E deixem-me recordar-vos que sou fruto das castas do 25 de Abril, portanto dado já à maturação em pleno espaço de liberdade, assim se dizia. Portugal era cinzento, existiam algumas boas séries, e as novelas ganhavam o seu espaço. O país começava a abrasileirar-se. Embora as dançarinas de varão do outro lado do Atlântico só começassem a chegar já nos inícios da década de noventa.
Mas uma vez por ano, como uma orgia daquelas em que vale tudo menos tirar olhos, havia o Festival da Canção. Era aquela oportunidade para ver o Eládio Clímaco e a Ana Zannati brilharem a grande altura, para nos rirmos imenso com os júris regionais, e para nos dois meses seguintes sonharmos com a utopia de uma classificação excelente na Eurovisão.
Invariavelmente, as nossas expectativas ruíam ao fim das primeiras cinco ou seis votações dos júris estrangeiros, quando verificávamos que a canção portuguesa era um fiasco internacional e que por lá continuaríamos na cauda da tabela com aqueles infaustos zero pontos do costume
Hoje cresci, o Festival da Canção já não é a mesma coisa. Quem participa, quem vence, já não fica para a História da música portuguesa, as canções têm pouca qualidade, o modelo não convence, e já ninguém liga ao concurso das canções. Sugiro uma visita ao sítio da RTP, onde pode ver-se uma lista de todos os vencedores do Festival. Digam-me, alguém se lembra das canções que saíram vitoriosas dos concursos dos últimos anos. Eu também não. Portugal mudou. Até os conguitos estão diferentes.
p.s. para os interessados, o You Tube tem disponíveis todas as participações nacionais nos Festivais Eurovisão da Canção, a cores quase todas elas, enquanto por cá sobrevivíamos ainda num universo tingido a preto-e-branco. Rever aquelas imagens pode ser uma surpresa para muita gente. Como foi para mim...
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7 comentários:
Para mim que sou da casta anterior ao 25 de Abril, o dia do Festival da Canção era esperado ansiosamente, com direito a confraternização com vizinhos, beberete e gravações das músicas num gravador de bobines. Não há dúvida que por estarmos tão condicionados sobrevalorizavamos tudo o que nos era "oferecido".
Os refrões das músicas ficaram colados até hoje, fenómeno só comparado ao efeito Dragon Ball.
Já és um pouco antiga. Mas que idade tens tu, Ana GG? Deixa-me lá verificar o teu perfil
...
Não diz. Mas se dizes que és antiga, quem sou eu para pôr isso em causa. Seria um momento de congregação, que hoje só têm semelhança nos jogos da selecção em grandes competições.
A verdade é que esses tempos foram marcantes. Eu lembro-me de algumas noites de festival. E as músicas (estive a escutá-las e a vê-las outra vez) eram grandes músicas, acompanhadas por grandes orquestrações.
Mas a sério que és cota?
Ahahahah...o que me ri!
Sou mesmo antiga, mas não tenho antenas nem sou verde.
A sério que sou mesmo cota!
Cota o suficiente para parir um filho quase à 18 anos e olha que não fui mãe aos 12.
Sou a cota que aparece nas fotos do blogue...andas mesmo distraído ó Bruno.
Sim, Ana GG, mas como deves imaginar não me detenho a observar as fotografias que publicas no blogue. Prefiro o texto. Eu também tenho idade para ter um filho de 18 anos. Mas não sabia que eras cota. Se bem que isso interessa pouco. O que interessa é que costumavas ver o Festival da Canção. O mais antigo de que me recordo é do Sobe Balão Sobe. E tanto subiu que nunca mais ninguém o viu.
Imagino que não te detenhas a procurar as fotografias pubicadas mas ao abrires o blogue tens logo a imagem da cota Ana no topo.
Aiiii, essa foi das músicas que ficou mas que me enerva tanto.
Vou passar a olhar com mais atenção. :) Já tinha reparado, mas sempre me pareceu meia desfocada, nunca a observei com grande atenção. Nem dá para ver o quão cota és. Não te daria mais de 49 olhando para aquela fotografia.
Mas conta-me cá, o que é que não te irrita?
Gosto da fotografia precisamente porque está muito indefinida, dá-me um ar fantasmagórico, porém, jovem. Tal como tu, ninguém me dará mais de 49 anos e isso é “muito importante”.
Como deves calcular, nós, os idosos, já não temos a vossa dose de paciência, somos mais “irritadiços”.
O que não me irrita:
- “Eu vi um sapo” da Maria Armanda
- A simpatia inata (em exagero tb me provoca náuseas)
- Receber o subsídio de férias
- Espaços onde se pode fumar
- Não ter horas para acordar
- O calor qb
…Tenho mais 2 ou 3 coisinhas mas não me quero alongar muito.
Tem um bom dia de trabalho miúdo!
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