28.2.09

29 de Fevereiro








29 de Fevereiro - Dia Europeu Sem Augusto Santos Silva

27.2.09

A política portuguesa e os restaurantes chineses












Conhecer por dentro o funcionamento dos partidos políticos é um pouco como conhecer o que vai por dentro da cozinha de um restaurante chinês. Depois de sabermos o que por lá anda, nunca mais temos vontade de comer chop suey de vaca. E depois de sabermos como funciona a mentalidade de quem anda por dentro dos partidos, também sentimos vontade de nunca mais pôr a cruzinha em nenhum, e sobra a vontade de ir lá desenhar um pirilau no boletim de voto.

Sócrates e os blogues

José Sócrates acusa (entre outros) os blogueiros de participarem na campanha negra contra ele. Os poderes ocultos, anónimos e cobardes. Somos mesmo mal agradecidos. O Sócrates trata-nos tão bem, e nós respondemos nesta moeda... Alguém enfia a carapuça?


(Eu acho que ele anda a ler a blogosfera e a deixar comentários anónimos em resposta aos anónimos posts e comentários sobre ele.)

Os Grandes Timoneiros Autárquicos (GTA)












Hoje chegou à caixa do correio cá a casa o pasquim autárquico. É normal, de quando em vez, os serviços da Câmara porem-nos a par do "excelente" trabalho que desenvolvem. Assim, é percorrer página atrás de página em contemplação pela obra feita. Se alguém julgava que Mao abusava da omnipresença em todo o recanto da república popular que fundou na China; se alguém julgava que Hafez Assad abusava da omnipresença em todos os souks na República Árabe da Síria; ou se alguém julgava que Saddam ou Kim Jong Il abusavam... que folheiem um qualquer boletim municipal. Neste que me chegou a casa, a figura do presidente da autarquia surge de cremalheira arreganhada em mais de metade das páginas. O que não é muito, atendendo a que, aqui bem perto, um antigo dinossauro autárquico, agora desaparecido político, costumava aparecer em percentagem bem mais elevada, e difícil se tornava encontrar página na qual o frontespício de tal figura não dominasse.

26.2.09

O meu táxi de hoje

Nem tinha dado por ela, já íamos na Gago Coutinho e estavam a bater os traços sonoros da hora certa. Taxista que se preze leva o rádio sintonizado na Renascença, no Rádio Clube, ou na M80. Fazem-se acompanhar por radialistas encartados, de vozes delicodoces, que durante tardes a fio, sem o saberem, afundam anos de carreira, desautorizados pelos tons estridentes das meninas da RETÁLIS, a porfiar por um táxi à Praça da Alegria, e por outro ao Colégio Manuel Bernardes, espera o Menino João, a crédito. Andar de táxi em Lisboa é uma aventura que nos leva a reequacionar a premência das teorias construtivistas. Um mundo paralelo banqueteia-se a bordo de estofos e tablier de um Mercedes 190D de 1988. E nesse mundo tudo é perfeito. Tudo bate certo. Tudo anda sobre quatro rodas. Mesmo quando o aço húmido desafia o universo e contra as leis da relatividade quer conquistar um espaço de alcatrão maior do que deve. Não é incomum sentir-me um alienígena dentro de um táxi, com a pressa de chegar ao destino para o meu passeio espacial. Hoje senti-me um pouco mais: como reagir quando deixamos a nossa vida nas mãos destes diletantes da verbena automobilística e o senhor das notícias na rádio nos presenteia com histórias como esta? Talvez assobiar para o lado. Foi o que fiz.

E afinal não há crise nenhuma (a culpa é dos outros)










Estava a ouvir com atenção o Ministro Augusto Santos Silva, na SIC Notícias, a fazer o balanço dos quatro anos de governação socialista, e estava a tentar não soltar nenhuma expressão facial que denunciasse a aversão que tenho ao discurso e à postura deste senhor político. Não fosse alguém estar a observar-me sem eu saber e denunciar-me a alguém, que por sua vez se encarregaria de me denunciar a outro qualquer. Este é o homem que se instituiu como o paladino das liberdades, direitos e garantias e que um dia proferiu o pensamento de antologia: "é preciso malhar na direita".

O suplemento Inimigo Público de hoje chama a esta figura: o convidado que mais vezes participou no Prós e Contras, mais até do que a própria Fátima Campos Ferreira. E é verdade. Este senhor está sempre lá batido. Sempre a malhar...

TVI24







Começou a TVI24.

Notícias, irreverência, a tragédia, o drama, o horror. Em duas palavras: san gue, que em japonês quer dizer qualquer coisa como: "despachei o Pina Moura, [o português mais japonês de Portugal] e já ninguém me consegue tirar daqui". Pina Moura agora já só saca dinheiro à Media Capital como comentador do canal.

Como seria de esperar, a TVI24 começa com uma sessão de masturbação colectiva: Henrique Garcia passa a bola a José Eduardo Moniz e dissertam sobre os desafios e as virtudes do novo canal. O açoriano diz que a informação será: "séria e independente". Rostos novos resgatados à RTP, e um cenário virtual: uma mesa tão branca que fere os olhos, e o fundo virtual a começar como o próprio canal, aos tremeliques.

O sítio do canal na internet não é mau de todo, mas também não seria difícil fazer melhor do que a pobreza franciscana que é oferecida na página do canal-mãe.

O resto já se sabe: é o rigor, a credibilidade, e a sobriedade da informação com a marca TVI.

Food for Thoughts

Pelo canal de rádio que escuto habitualmente durante a noite, passa quase sempre à mesma hora o génio esquecido de Astor Piazzolla.

E hoje foi uma das composições que adoro: Los Sueños



Procurem também Buenos Aires Hora Cero, vale a pena...

25.2.09

Remízio Melhorado vs Avelino Ferreira Torres











Há quem diga que são uma e a mesma pessoa. E há quem diga que um é procurador do Ministério Público e outro foi autarca do Marco de Canaveses. Seja como for, dariam uma novela venezuelana, daquelas em que o galo de Barcelos surge como bibelô em todas as cenas. De um lado Avelino Ferreira Torres, o homem capaz de resolver os assuntos à maneira antiga e de pontapear os utensílios do árbitro durante um jogo de futebol. Não tem papas na língua, é do tipo "deslarguem-me, que eu vou-me a ele!" Cultiva o culto da personalidade às direitas. É uma espécie de Mao Tse-Tung à minhota.
...
Remízio Melhorado dispensa apresentações. O nome diz tudo. É procurador do Ministério Público, e proferiu hoje as alegações finais no processo contra Avelino. Pediu pena de prisão para o ex-autarca. Entre outros crimes, o de corrupção e abuso de poder. Pode dizer-se que os tem no sítio. Mas se não tiver cuidado, pode deixar de os ter.
...
Por via das dúvidas, Avelino já veio dizer que Melhorado é mentiroso, e que vai ter de provar o que diz, até porque Avelino não é da família dele.
...
Este tipo de personagens gosta de meter ao barulho conceitos como família, honra, palavra. Públicas virtudes que tantas vezes escondem e ocultam vícios privados. Pois eu tenho cá para mim que Remízio, Avelino e Melhorado são uma e a mesma pessoa... E que até a Carmen Miranda não fica isenta nisto.

Debate do croquete

"Doze Deize Ar Ouvâr"

Acabaram-se os tempos das inaugurações dos quinhentinhos. Quinhentos mil euros para o rissol e o croquete nas inaugurações de novas estradas. O Governo inaugura, as concessionárias das autoestradas chegam à frente e assinam o cheque. A propaganda fica feita. Em última instância sobra para o utente.

A frase em epígrafe pertence ao líder da bancada parlamentar do PSD, e é a representação fonética mais aproximada do sotaque de Paulo Rangel, ele também um grande especialista na técnica do inglês, mas que mesmo assim fica aquém dos calcanhares do inglês técnico, esse sim, um must do bom argumentário republicano.

Para quem está com os azeites


















Azeite Galo
: a crismar desde 1860

À atenção dos mais vi(r)ciados

À consideração daqueles que ocupam parte do seu tempo neste mundo paralelo e que por muito que tentem não conseguem dele libertar-se. Um estudo revela que os jovens que indiciam sintomas de vício no acesso à Internet, que por cá passam horas e mais horas e não encontram vida para mais nada, são mais propensos a comportamentos violentos e agressivos.

Digamos que eu já tinha uma certa desconfiança.

[A notícia pode ser conferida aqui... e o estudo publicado no Journal of Adolescent Health está disponível aqui (com registo).]

24.2.09

Um mundo com vista para o meu quarto (II)


À primeira vista não conseguia encontrar relação entre o amor que sentira por Londres quando a conhecera pela primeira vez, e o amor que deixara em Lisboa, quando dela se despedira na colina dos aflitos, por entre lágrimas de crocodilo, a mirar o Tejo e a deitar contas aos tostões da vida. Reconhecia bem serem amores diversos, daqueles que não se explicam e nem se anulam, antes se completam e fazem pensar várias vezes antes de enfrentar uma ribanceira de decisões difíceis. Fê-lo sem olhar para trás. Juntara-se aos milhões de forasteiros daquela urbe cinzenta ia para três anos. Uma casa em Ladbroke Grove, com renda paga a meias com outra estrangeira. Todos os dias, enfrentava a rua com um umbrella recolhido na bolsa. Recebia o primeiro jornal da manhã das mãos de um desconhecido de rosto afunilado dentro de um gorro quente, e continuava sem pressas a fruir a salgalhada de vozes que exercitavam récitas perras em busca do sotaque mais cumpridor. O seu rosto contempla e triunfa. Divertia-se com os canalhas que açambarcavam carteiras no metro. Reconhecia-lhes tiques e frustrações. À noite voltava a Ladbroke Grove, invocava pressas e deixava-se cair na cama à procura das memórias que lançara pela janela quando se deportou de Lisboa e por lá deixou um pedaço de vida. Guiara os sentidos para um prato de frango "peri-peri" quando por uma vez decidiu experimentar o Nando's, cujo "bom proveito" que a seguia por todos os recantos do estabelecimento não a remetia para Portugalzíssimo nenhum. Desencontrou-se dos sabores do país naquelas asas de frango, e decidiu-se a experimentar um outro restaurante em Stockwell Road, onde os sotaques lusos eram bem mais aprimorados, e cujos condimentos de portugalidade a levaram por momentos a recuperar os encantos do país. Mas ali não regressou por não se rever naqueles homens e mulheres anacrónicos, a viver da herança de um Portugal que deixara já de existir. E passou a parar num pub italiano, onde reencontrava colegas de investigação, onde voltava a ganhar vida o bico de Bunsen, e se recuperavam as conversas sobre balões, condensadores, e tubos de ensaio. Mas pelo menos uma vez todos os dias, o metropolitano voltava a conduzi-la às reminiscências da Lisboa de sempre. Até ao momento em que uma voz a advertia: "mind the gap"...

A vida é um carnaval

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira.

(A Felicidade, Vinicius de Moraes / Antônio Carlos Jobim)

E para o ano aqui estarei...

19.2.09

Um mundo com vista para o meu quarto















Era mais um português que atravessava a estação de St. Pancras em direcção ao cais de embarque do metropolitano em King's Cross. E tantos havia que ali assomavam em pronúncias dissonantes: desde os clamores quentes do português adocicado, aos sabores provincianos da língua dos desencontros, manobras de sensações sonoras marcadas no mapa de latitudes distantes. Tomava a Circle Line para se prostrar nas estações junto às margens frívolas de um rio que sentia todos os dias andar um bocadinho para trás. Não o perturbava que o seu dia ganhasse forma nos rostos de todos aqueles londrinos emprestados. Distribuía-lhes as notícias da manhã, em parangonas grosseiras e paródias absurdas, interceptadas por sirenes roucas de fuga à liberdade. O relento dava lentamente lugar a um nevoeiro húmido e espesso que se confundia na fuligem que as chaminés permitiam antecipar. Dali partia já com a jorna embolsada para novas viagens, tormentosas viagens, dali para Kensington, depois para Notting Hill, e finalmente Paddington, de onde o comboio o conduzia rápido até aos limites de Reading, cidade submersa numa palidez suburbana, que fazia jus ao nome e o punha a ler os clássicos durante a hora de viagem num comboio com entradas e saídas a trouxe-mouxe. Assim ganhava a vida. Em Notting Hill, biscates na instalação eléctrica de casas vitorianas mais abastadas. Em Kensington, jardinagem, limpezas e uma amiga secreta, colombiana, que o punha a sonhar com o universo de Aracataca, de que ele jamais ouvira falar, mas que imaginava ter lido em Gabriel, sem nunca de facto ter desfiado uma página. E em Reading, auxiliando a soerguer velhinhos e a acreditar que ali se fazia a vida, a sua, ainda que com dedos impregnados de caca e a mente em qualquer outro pensamento. Era este o português que todos os dias regressava à estação de St. Pancras com a noite já muda e o frio cortante do sopro do Mar do Norte. Era o português que depois se divertia no café de um madeirense, onde vislumbrava num ecrã grande as pernas de jogadores portugueses em duplicado, em dérbis lancinantes e apitos diligentes; e onde bebia mais uma cerveja, para depois voltar a sair e ver nas chaminés apenas o castigo de um jogo de bridge. Este era o português que voltava a si mesmo em escassas horas de sono. Ele que dizia a si mesmo "Good Night", apesar de em pouco mais se aventurar no seu inglês tímido do que nuns "thank you", "Welcome", "Good Morning". E na noite, mais um dia começava...

Muito bem

Hoje ouvi a Ana Lourenço na Sic Notícias agradecer a António Arnaut (o "pai" do Serviço Nacional de Saúde) "ter aceitado o convite" para estar no programa. Muito bem. Muitíssimo bem. Sobretudo vindo de alguém que ficou tão marcada por ter chamado no ar "broche" a um convidado.

18.2.09

O mau costume da felicidade

Não o esconde, vai às putas, e é essa viagem à profundeza mais obscura dos sentimentos que o faz sentir-se realizado. Que moral temos para criticar quem arranja maneira de ser feliz?

Todos os dias me cruzo com ele, e quando acontece apanho-o sistematicamente a folhear a página dos classificados do Correio da Manhã, agarrado à coluna das senhoras que vendem préstimos em massagens ou outras alegorias corporais.

Uma troca de palavras, os olhos percorrem ainda atentos em sentido vertical a plêiade de eslavas, brasileiras e africanas lusófonas que se prestam a serviços diários, com mistura de carinho e atenção.

— Agora ando a visitar uma russa que é espectacular. Já tem cinquenta anos, mas é espectacular como uma miúda de 18 anos.

Ele não quer outra coisa.

Comento em tom jocoso que porventura o ideal seria que cada uma daquelas "massagistas" oferecesse uma primeira consulta gratuita, numa tentativa de fidelização da clientela: cliente satisfeito, voltaria garantidamente.

Responde-me que se isso se tornasse norma, seria só ver clientes a saltitar de primeira consulta em primeira consulta e o negócio morreria. Sou obrigado a concordar, mesmo quando tinha já na ponta da língua o argumento de que num mercado tão competitivo como o das profissionais com actividade de elevado interesse social, isenta de impostos, a concorrência obrigaria a uma descida de preços. Mas penso: que se lixe, a felicidade não tem preço.

Quase todos os dias me cruzo com ele. Sentado na mesma cadeira, a espreitar o infinito, e sempre me diz:

— Conheci uma russa, é espectacular!

A arte de bem abocanhar (II) - Lição e esperma

RICKY
Marco Ribeiro, propunha precisamente que partíssemos então para essa discussão. Como deve ser então esse bico, esse broche bem feito? Esse felatio. Aliás, Marco Ribeiro, tu já terás experiência disso, de receberes o belo do bico de José Manuel Santiago, ele que ficou até com marcas, ao ponto de ter levado pontos na testa, pela violência do esguicho...

MARCO RIBEIRO
De facto, ele ainda hoje usa óculos devido à corrosibilidade do meu esperma.

RICKY
Exactamente, ele que ficou desde então com um problema na vista. José Manuel Santiago, tu que és então o especialista nessa bela arte do bom bico, do bom beijinho, explica-nos então como deve ser feito, que cuidados ter com os lábios, que cuidados ter com a pele - aliás, tu não precisas, precisamente por causa desses cremes naturais que usas...

MARCO RIBEIRO
Ao contrário da Cleópatra, que toma banho em leite de burra, ele toma banho em leite de burro.

RICKY
Burro, cavalo, égua, e tudo o mais.

Santiago, explica-nos então como é essa arte do bico.

JOSÉ MANUEL SANTIAGO
Acho que uma boa brochada deve começar pelo treino, desde pequeno. Eu comecei a pegar em canetas e metê-las na boca, a fingir que era um pénis. Começa por aí.

RICKY
A caneta que é um objecto fininho, e que não custa logo no início, não traz aquela dificuldade. Mas depois é preciso ir engrossando.

JOSÉ MANUEL SANTIAGO
É verdade. É preciso ir engrossando. Caneta, depois passas por um martelo, até que acabas no pénis, não é verdade...

O segredo de uma boa brochada começa por uma boca flexível, que consiga abocanhar o dobro da tua capacidade oral.

RICKY
É importante referir que os lábios devem estar bem oleados, aliás, deve existir humidade no lábio, para que o belo do bico resulte na sua plenitude.

JOSÉ MANUEL SANTIAGO
Isso e também uma coisa muito importante, que é ter um bom hálito. Está comprovado cientificamente que quando abres a boca soltas um vapor e esse vapor se for muito muito forte e desagradável é capaz de fazer murchar o mais forte dos pénis. Portanto, convém ter um bom hálito antes de fazer uma mamada a alguém, convém tomar uma pastilhinha de bom hálito, por exemplo com sabor a mentol. É preciso é flexibilidade. Existem mesmo tribos africanas em que a mulher consegue abocanhar tanto o pénis como um dos testículos.

RICKY
Importante também referir, Santiago, que é importante ter uma úvula flexível, ajuda bastante. Até porque aqueles que gostam de aprofundar o assunto precisam de encontrar uma úvula bastante flexível.

Já vamos voltar a falar dessa arte de como bem abocanhar, para isso temos aqui em estúdio uma especialista, a Madame Débora, que dentro de momentos vai falar e até exemplificar na prática como se faz o bom do boquete.

INTERLÚDIO MUSICAL

17.2.09

Desencontro Pontual
















Por vezes, para encontrar o caminho, é preciso voltar para trás. E não há que ter medo em encetar o caminho inverso. Eu nunca tive medo. Mas também nunca voltei para trás. Mas já me apeei em algumas estações e parti para outros destinos. E também já fui apeado.

"Um homem nasce num comboio, numa carruagem de segunda. É amamentado com o leite proveniente das diversas estações em que o comboio pára. O homem cresce, aprende as coisas triviais, ainda que necessárias, que o amarram à realidade concreta, mas nunca abandona o comboio. Vive uma existência tranquila sem fazer outra coisa senão olhar pela janela, até que o bichinho do amor começa a cavar a sua toca entre a pele e a camisa dele. O homem descobre então que possui um dom desconhecido. Pode evitar qualquer espécie de complicação existencial pelo mero facto de se apear na estação seguinte e tomar o comboio em sentido inverso. Pode repetir esse ardil salvador sempre que quiser, quando a mínima dificuldade ameaçar transtornar a sua tranquila vida de passageiro."

in conto Desencontro Pontual, de Luis Sepúlveda

A arte de bem abocanhar (I)

Alfinetes de peito há-os para todos os gostos. Há quem os prefira virados à esquerda, há quem julgue que a resvalar para a direita denotam um código qualquer, e há até quem tenha escolhido fazer do broche um modo de vida.

Nunca reflecti muito sobre a arte do boquete. Mas sei que há mulheres que gostam de o exercitar, e quase todos os homens gostam de o receber. Mas, porque existem sempre razões que desconhecemos, há mulheres que por um motivo qualquer são capazes de exibir as suas beiçadas em pleno verão, a devorar a cabecinha de um Calippo de Morango sem se fazerem rogadas de sugar todo o liquidozinho daquilo, mas que não são capazes de espetar aquilo na boca de uma vez por todas. E, pior do que isso, nada há de mais constrangedor do que uma sugadela que não potencia o prazer do homem. E do que um homem que não consegue ter prazer sob a acção bocal de uma lady. Há, pois, que doutrinar nesta área. (Que bonito, até pareceu inteligente.)


MARCO RIBEIRO

Enquanto ela se delicia com este meu espantoso margalho, gostaria de dizer que encontrei esta minha velha amiga, que não é assim tão velha, não é assim tão velha como a senhora do Moulin Rouge, encontrei-a ali na casa de banho, estava eu a preparar-me para fazer umas necessidades urinárias, quando a encontrei, estava ela a procurar um brinco, e eis que eu vou para tirar a pila para mijar e lhe acerto num olho...

Ela pediu-me imediatamente desculpa, por ter o olho no caminho da minha pila, e deu-lhe beijinhos, para ela não ficar triste.

É uma velha amiga minha, além de ser uma especialista no broche, é muito boa e muito competente e uma enorme fã do sexo sado-masoquista.

RICKY
Marco Ribeiro, eu perguntava-te então: Quem é ela?

MARCO RIBEIRO
É a Marie Margarite, mais conhecida por Madame Débora, ou Miss Chinquilha, a mestre da ameijoa e do chicote.

RICKY
Boa noite, Madame Débora!

MADAME DÉBORA
Boa noite!

RICKY
Como é que está a sua boquinha, hoje?

PAUSA

RICKY
Lá está, ela está bastante ocupada, nesta altura com os 73 centímetros de bacamarte de Marco Ribeiro. Recordo que José Manuel Santiago tem apenas 33 centímetros, e eu tenho metro e trinta e dois de pau, e quem quiser comprovar que venha aqui ao estúdio.

Consta, Madame Débora, que a sua boca serve de fita métrica, é verdade?

MADAME DÉBORA
Apesar de ter um boquinha muito pequena, toda a gente gosta. Nunca ninguém se queixou. Uma pessoa tem de saber sugar a essência.

RICKY
Sugar a essência. Geralmente é no fim que se suga, não é?

MADAME DÉBORA
É!

RICKY
E costuma engolir?

MADAME DÉBORA
Claro que sim! Para ficar bem alimentada!

Além disso, porque está provado que se as mulheres praticarem sexo oral pelo menos duas vezes por semana diminuem o risco de problemas de pele...

15.2.09

Passagens de Lisboa #5















Como naquele dia, querida e saudosa amiga, em que os três subimos à Rua da Saudade, aquela que faz agora todo o sentido, para descobrir Lisboa num tempo antigo, naquele tempo em que centuriões e gladiadores e homens de latim na ponta da língua se passeavam pelas ruas desta nossa urbe. Naquele dia, também de calor como o de hoje, em que os três subimos com dificuldade aquela escadaria de degraus íngremes, imersos em vida e grávidos de esperanças.

13.2.09

As Cores da Amizade

Nunca consegui compreender muito bem os preceitos de uma amizade colorida, embora tenha tido várias. De uma forma resumida, podemos dizer que uma amizade destas acontece quando duas pessoas se encontram de livre vontade para desalmadamente trocarem lambidelas em todos os poros, viajarem sobre o fôlego alheio, encetarem uma permuta de toques mútuos como discípulos de Midas. Ou dedicarem-se simplesmente à fornicação crua, uma espécie de sushi sexual, mas com forte tendência para os sabores e a consistência de um naco de carne barrosã.

A cena colorida é tudo isto, é sexo do bom e lá pelo meio são beijinhos. Chamar-lhe-ia: o rendimento mínimo da distribuição dos afectos.


A Amizade e o Sexo

Tive várias amigas que talvez se encaixassem no tal conceito de "coloridas". Uma de cada vez, porque não conceberia esta modalidade com simultâneas, nem isto é xadrez e nem eu sou o Boris Spassky. Quantas vezes me meti no carro para me encontrar com a minha amiga colorida, para ser feliz com prazo marcado, como um iogurte, sem açúcares, só mesmo com a vontade e o prazer. Basta uma mensagem recebida no telemóvel para detectarmos um défice no saldo dos afectos. E lá vamos nós...

Neste tipo de relações, os assuntos costumam estar devidamente compartimentados. O sexo não se mistura com o resto, e o resto não se mistura com o sexo. Depois da fusão dos corpos, vem a conversa, a partilha de preocupações, a emancipação do desejo, um "como estás", um "hoje sinto-me problemática", um "estou cá para o que for preciso". Mas há uma pergunta que apesar de toda a intimidade nunca existiu: "e namorados(as)?"

E a grande vantagem neste género de relações bicéfalas, é que de facto a Amizade existe. Por alguma razão, talvez pela ausência de compromissos para além do respeito mútuo ("fodes comigo, não fodes com mais ninguém, e se quiseres foder com mais alguém, deixas de foder comigo"), as relações perduram, mesmo quando a cor se esbate, mesmo quando os tons pardos vão tomando conta das nossas vidas; terminam as aventuras cromáticas, permanece a amizade.


E quando o Amor acontece


Uma amizade colorida não restringe a busca pelo amor verdadeiro. E esse é talvez um dos principais desafios postos a uma amizade colorida. Ou se é demasiado impessoal, ao ponto de cada um poder evadir-se para a sua parte sem se esperar que dê cavaco à outra parte, ou é uma amizade verdadeira e então existe um respeito acrescido.

Mas, e quando lá longe o amor acontece, o verdadeiro amor? Como quebrar os elos de uma corrente forte como é a amizade colorida? Como lhe retirar a parte do "colorida" de modo a guardar a "amizade"? Quando tal me sucedeu, durante uns dias andei com um nó no estômago. Recebia mensagens coloridas com convites para cafés, para jantares, para ver o mar. Convites que recusava sem apresentar justificações plausíveis. Por um lado, a pessoa que amava e à qual pretendia ligar-me. Por outro, alguém que merecia todo o meu respeito, e a quem devia o mundo. Alguém que me nutriu de afectos durante o tempo da míngua alimentar...

Como dizer a alguém, "a amizade colorida vai ter de terminar, estou apaixonado?" Na prática (e isto posso dizê-lo também por experiência própria), uma amizade colorida interrompida é uma amizade colorida em stand-by. É que os amores vão-se. As amizades coloridas vêm-se. Nunca nos curamos de uma amizade colorida, somos e seremos sempre dependentes em recuperação, prontos a ter a próxima recaída.

A verdade é que a malta às vezes queixa-se da vida que leva, mas devo dar graças pelo facto de trabalhar no que quero, ser pago por isso, e gostar do que faço. Não voltarei a praguejar sobre isto (pelo menos nos próximos 3 dias).

Passagens de Lisboa #3
















Subi aos miradouros que contemplam Lisboa. O Eléctrico 28, uma das personagens da nossa história comum, deslizando sobre os carris que desaguam nos vários olimpos desta cidade. Imaginei-me ali contigo, como se nós fossemos um, e tu fosses eu e eu fosse(s) tu. Tu, minha fotógrafa ocasional.

12.2.09

Passagens de Lisboa #2
















Continuei pela Sé de Lisboa, sempre bela, onde entrei e observei a monumentalidade de todas aquelas pedras matematicamente emparelhadas, evitando fotografar no interior para não perturbar o repouso dos que sob o lajedo jazem. Atentei para aqueles que, como turistas, dão graça de visitantes. Ali, poderia estar a minha interlocutora perdida. Senti que o rol de coincidências, que desconhecia terem-se formado ao longo dos anos como cristais na nossa existência, poderia também juntar-nos ali, aglomerados como pedras, mas distantes de saber da presença um do outro.

Palavras (II)

Matava o bicho com duas torradas e uma caneca de café com leite, desorientado no meio do meio de tanto vapor suspeito, névoa de sofrimentos que lhe acordavam o dia sem novidades numa viagem pelo nevoeiro das notícias da manhã, espreitando de soslaio o aparelho funesto das imagens a ritmo constante, que anunciava complicações para lá do nó da Buraca, e entre os vapores matinais de uma caneca de café com leite, contemplava aquele estranho repetir de circunstância, de cada dia igual ao anterior. Dali a pouco, a busca da intimidade em folhas que vertiam tinta fresca de ideias antigas, o olhar viajando num mar de anúncios de jornal, cruzeiro de primeira classe com mapa do tesouro que não aceita passadas em falso, como se o futuro se desenhasse ali, na semântica abreviada de duas ou três frases de sepultura, à procura de gente viva, ou que dominasse a estranha arte de arquear circulares. Por isso, como sempre, Minotauro à procura da saída do labirinto dos vapores desorientados do café da manhã, concluía que as palavras não o levavam a lado nenhum, apenas a locais que desconhecia, emergências sem saída, eram afinal apenas os trilhos de Dédalo, ocultos na estranha composição de um caderno de classificados.

Palavras

Concluía que as palavras não o levaram a lado nenhum, apenas o estranho crepitar dos pensamentos, numa espiral de desespero e confusões alheias, suportando olhares despertos que não padeciam de amizades, e apenas a sensação do vazio crescendo no completo o poderiam deixar preocupado, o resto eram as balelas de quem reconhece o perfume do descontentamento, de quem, capaz de limpar as mãos a um avental de tristezas, como as lágrimas que enfrentam o lenço e como um defunto que raspa a terra à procura de tumba, o deixa sem palavras para explicar o que não tem explicação.

O bom tempo dá nisto

Há algum tempo que não via o sol nascer desta forma. Há algum tempo que não tinha... tempo para observá-lo nascendo desta forma. Acordares apressados, vidas cronometradas, e falta de tempo para respirar fundo. Falta de tempo até para o essencial: confirmar que o sol quando nasce é para todos.

O dia de hoje vai ser longo, com muitas perguntas para fazer, mas sobretudo com muitas perguntas para responder.

Há pouco atentava para as primeiras notícias da manhã, que são sempre as últimas de ontem à noite, e verificava que começa a ganhar força uma tendência que no outro dia em conjunto com amigos assumíamos pudesse confirmar-se: em tempo de crise económica, e dos engulhos causados à conta das alegadas tramóias feitas para o licenciamento do Freeport, o PS apressa-se a lançar para a discussão pública uma série de temas fracturantes em relação aos quais nunca os portugueses conseguirão entender-se.

A ideia é "esqueçamos isso, e dediquemo-nos a discutir o sexo dos anjos". Os dois temas que vão ganhando espaço na agenda mediática: o casamento entre pessoas do mesmo sexo (lançado pelo secretário-geral do PS e também primeiro-ministro); a eutanásia (lançado pelo Presidente do PS).

Acho mas é que vou ver o sol, antes de dar corda aos sapatos.

Passagens de Lisboa #1











Observei com atenção o Cais das Colunas. O sol estava quente, desenhava-se sobre nós como um peso que atormenta consciências livres. Não estava tranquilo. Olhei uma segunda vez, desta vez estendi o olhar até à zona do gradeamento e do muro onde algumas criaturas torravam ao sol. Vi uma jovem que apontava a máquina fotográfica para o centro da Praça. Senti a tentação de lançar a senha à espera de que na resposta se soltasse a impressão de um instantâneo à la minute. Ela prosseguia com as suas vestes de veraneio, torpedeando a praça com fotografias umas atrás das outras. Senti que aquela passageira ocasional se sentiu observada e me olhou de relance. Os óculos escuros cobriam-lhe metade do rosto, ocultavam alma e pensamento. Durante minutos permaneci imóvel, numa paciência de obturador. À espera de um clique que nunca chegou a existir.

O Plágio de Bruno Fehr






É o exemplo acabado do estólido trafulha, sempre preparadinho para passar o pernil ao seu semelhante, sempre disposto a levar pela frente uma bela vigarice, caso seja necessário. E é, provavelmente, o mais bem sucedido plagiador em actividade na blogosfera portuguesa. Um homem para quem os fins justificam quaisquer meios, mesmo os que estão para lá dos princípios da moralidade e do respeito pelo próximo. E até mesmo os da própria legalidade.

Qualquer plagiador tem remissão, basta apenas que assuma o erro. Quem não o faz e procura lançar a ilusão para abafar a burla, incorre numa dupla intrujice, e prova uma evidente ausência de carácter. Mas isso, como é evidente, não perturba um plagiador, não perturba Bruno Fehr. Carácter é algo que não sabem interpretar e de que nem sequer sentem falta.

O texto de Bruno Fehr parece interessante, educativo, elucidativo, fruto de uma mente iluminada. Mas mais não é do que o resultado da chico-espertice de alguém que não quis dar-se ao trabalho de pesquisar e preferiu submeter-se ao brilho dos holofotes servindo-se do trabalho de outros como se do seu se tratasse.

Uma leitura diagonal sobre as duas versões (estão no final deste texto, a cópia surge em itálico e pode ser comparada com o original) bastará para detectar a marosca e desmontar o embuste. Nem sequer existe a atenuante de podermos pensar que no meio de um texto original, construído com ideias e frases próprias, tenha surgido a tentação do facilitismo e o recurso à cópia de uma ou outra frase isolada. Não. Neste caso, falamos da cópia descarada de um texto inteiro. São parágrafos e parágrafos, copiados do original em inglês, um despudorado exercício de plágio, que, se não tivesse sido desmascarado, ainda hoje passaria como uma interessante reflexão da lavra deste homem sem carácter.

Numa tentativa para disfarçar o plágio, a pessoa em questão procedeu entretanto a algumas alterações e manipulações tentando conter os danos da sua própria incúria e falta de coluna vertebral.

Este era inicialmente um texto sobre o qual o plagiador reclamava absoluta originalidade, passou depois a ser um texto que o plagiador dizia inspirado em fontes comuns a vários autores, para passar depois a ser um texto traduzido com uma autorização forjada à pressa, e apresentada nos dias seguintes para evitar a vergonha.

Para dar crédito a essa autorização fictícia, o plagiador alterou a data da publicação do texto, e tratou de apagar os comentários mais indesejados e denunciadores. Mas o roubo e a mentira têm perna curta, e num caso tão evidente é natural que qualquer mentiroso que procure alimentar a falácia incorra em trambolhões sucessivos e meta os pés pelas mãos. Foi o que aconteceu.

Podemos conferir, nas duas imagens ao lado, a versão original do texto tal com foi publicado pela primeira vez (clicar para aumentar). A versão original mantém-se aqui.

Como poderão concluir, uma tradução descarada. Uma tradução de má qualidade, e ao mesmo tempo um dos melhores plágios das épocas mais recentes. Um atestado de incompetência e de burrice para quem o praticou.



Nas versões actuais, já devidamente manipuladas para tentar ocultar a sacanice, a data de publicação foi alterada - para coincidir com o tal pedido de autorização forjado à posteriori - acabando por resultar neste acontecimento metafísico, quase miraculoso; os comentários são feitos antes sequer de o texto ter sido publicado e até este meu artigo, que na altura denunciou o plágio, foi publicado antes sequer do plágio ter sido feito. Magia! Magia Fehriana!!! Ou então trafulhice fehriana. Será mais isso...

E não foi o único plágio, a única vigarice, em que este charlatão das letras foi apanhado. Quem tem carácter, tem. Quem não tem, não vai comprar. Já dizia o outro: "um vintém é um vintém". E um plagiador há-de ser sempre um plagiador!

«Culto: Scientology
Fundador: Ron L. Hubbard
Sede: Clear Water, Florida
Membros: 6 milhões
Textos sagrados: Dianetics»

Founder: Ron L. Hubbard
Home Base: Clear Water, Florida
Number of members: 6 million
Sacred texts: Dianetics


«L. Ron Hubbard, o fundador do culto, era um famoso escritor de ficção nos anos 30 e 40. Ele decidiu mudar, e começou a escrever textos religiosos pouco tempo depois de numa entrevista ter afirmado, "escrever por 1 penny é ridículo. Se um homem quer fazer um milhão de dólares, deverá começar a sua própria igreja". No ano seguinte, ele publicou o seu primeiro livro religioso, chamado "Dianetics: A ciência da saúde mental", mais escritos se seguiram e pouco tempo depois deu-se inicio ao culto.»

L. Ron Hubbard was a prominent fiction writer during the 1930's and 40's. He decided to make a shift to religious writings after realizing a greater profit could be had. Hubbard stated, "Writing for a penny is ridiculous. If a man really wanted to make a million dollars, the best way would be to start his own religion." The very next year he published his first work. It was called Dianetics: The Science of Mental Health. More writings would follow and soon the origins of the cult emerged.

«O fundador desta igreja, foi casado 3 vezes, os seus dois primeiros casamentos acabaram em desastre com a sua segunda esposa, Sarah Northup a acusá-lo de violência doméstica onde incluía espancamentos, estrangulamento, isolamento sem comida nem água e insinuações para que ela cometesse suicídio.»

he was a man who was married three times. The major problem with this is that his first two marriages were absolutely disastrous. His second wife, Sara Northup Hubbard, rattled off a list of complaints in the divorce hearings. Some of them were beatings, strangulation, sleep depravation, kidnapping and repeated counseling to commit suicide.

«Antes de criar a sua igreja ele era membro da igreja satânica de Jack Parsey, considerada um culto criminoso. Hoje, os seus seguidores defendem-no, dizendo que era um agente infiltrado que trabalha para o governo.»

He was involved with a certain Jack Parsley, the leader of a Pasadena satanic group. Members of Scientology defend this by saying that Hubbard was covert-op, and was trying to infiltrate the occult group for the United States government.

«Este homem dizia ser um físico nuclear. Dizia que foi mortalmente ferido na segunda guerra mundial e que ressuscitou, não uma mas duas vezes, o que o torna divino. Na verdade ele foi expulso da universidade por chumbos no segundo ano. Ele apresentava um diploma da universidade de Sequóia que a própria universidade diz ser falso. Não existem documentos nenhuns sobre ele alguma vez ter sido ferido durante a segunda guerra mundial.»

He claimed he was a highly educated nuclear physicist and that he was mortally wounded during WWII and was raised from the dead not once but twice. This would of course give credit to his divine existence. The trouble with all this is that not only did he flunk out of college after 2 years but his diploma from Sequoia University was a complete fake. Also, there are no records from WWII that give evidence Hubbard was wounded at all,

«Hubbard morreu em sua casa como recluso de si mesmo. A igreja recusa-se a aceitar que ele morreu, afirmando que ele abandonou a sua vida terrena, para continuar os seus estudos.»

Hubbard died an isolated old man in Creation Calif. in 1986. His members refused to believe that he died from a stroke and stated that he cast off his earthy body to further his research.

«A mente. Toda a base da crença religiosa se baseia na mente. O objectivo é de se tornarem uma "clear person" e finalmente num "homo novus". O que é que isto significa?»

The mind plays a massive role in the belief system of your everyday scientologist. There ultimate goal is become a 'clear' person. What does that mean?

«Bem, a mente é dividida em 3 categorias, Analítica, Reactiva e Somática.»

In short the mind is divided into 3 categories: Analytical, reactive and somatic.

«A Analítica trabalha sempre na perfeição, não falha, não comete erros. A Reactiva, guarda imagens e memórias das nossas experiências (enagramas). A Somática mantém as funções do corpo.»

The analytical mind works perfectly all the time. It never falters or makes a mistake. The reactive mind holds images and memories of our experiences (called engrams).The somatic mind is what keeps the automatic functions of the body working.

«O problema é que os enagramas, influenciam o perfeito funcionamento da parte analítica, isto causa depressões, traumas, etc e até doenças mentais. Para se ser uma "Clear person", os enagramas terão de ser eliminados. Isto é feito com uma terapia intensa feita pela igreja e paga pelo crente a peso de ouro, a terapia chama-se "audição". No fundo é como que uma entrevista onde o crente irá usar uma máquina estranha da igreja chamada Galvanomer electrónico e vai falar das suas experiências passadas, que são todas gravadas pela igreja. Este processo poderá demorar anos de tratamentos e podemos chamar-lhe em termos correntes "lavagem cerebral".»

The problem is that engrams will disrupt the perfect working analytical mind. Our past experiences and memories actually afflict our otherwise perfect mind. This causes all kinds of mental sickness. For someone to become a clear person, they have identify and eliminate their engrams. Thus, making their analytical mind work without faltering. To eliminate their engrams, the person must undergo intensive therapy using the electronic galvanometer (or E-meter). This device consists of 2 tin cans connected by wires to the meter itself. A therapist will monitor the meter to find any possible engrams. Once an engram has been located, a series of questions and probing will eliminate the mind affecting nuisance. A single person may have hundreds of engrams and will require many years of therapy. Once completed the clear person will have achieved the status as 'homo novus' which is the highest level in their belief systems.

«A primeira pessoa a ser uma "Clear person", foi uma estudante de física chamada Sónia Bianca, que após o seu tratamento foi apresentada ao mundo pela igreja como tendo atingido um estado superior de conhecimento, pois todos os seus enagramas foram apagados com sucesso. Ela foi declarada como sendo uma "homo novus". Esta apresentação publica foi um fracasso, pois após algumas perguntas verificou-se que ela não reconhecia as formulas físicas mais básicas e nem mesmo a cor da gravata do homem a seu lado. Ela na verdade estava numa espécie de estado catatónico, onde não tinha experiências passadas e só via a sua crença na igreja. Como se tivesse nascido adulta.»

This would seem as good a time as any to comment on the famous blunder of Miss Sonya Bianca; the very first 'clear' person. Hubbard rented out the shrine auditorium for an audience of 4,000 people. The stadium packed out as critics and devout members wanted to see Miss Bianca in action. See was a physics student from Boston who now had absolute perfect recollection and supreme knowledge. All of her engrams were done away with leaving no hindrance to her mind. A few questions into the interview and laughs could be heard throughout the auditorium. When questioned, she didn't know the color of L. Ron Hubbard's neck tie, or recollect some extremely basic physics formulas and failed to answer a variety of basic questions. Severe damage was done the credibility of Scientology and Hubbard that evening. The next day's newspaper's headlines decimated the whole debacle.

«Hubbard, define o espírito do Homem pelo nome de 'Thetan'. Um organismo vivo com 80 triliões de anos que vive no nosso cérebro. Ele afirma que os "Thetan" são seres espaciais que entram no cérebro do ser humano quando ele nasce.»

Hubbard relates to the spirit of man as a 'thetan.' It is a living organism approximately 80 trillion years old and dwells in our brains. They enter the skull right before the baby is born. It is also noted, says Hubbard, that the Thetans will actually fight over a host body.

«Não podemos esquecer que Hubbard era um fantástico escritor de ficção cientifica.»

In case you haven't noticed already, but that Hubbard guy was one brilliant science fiction writer.

10.2.09

O problema do plágio na blogosfera - um caso concreto de marosca

(ACTUALIZADO EM 14 DE FEVEREIRO)

Há alguns blogues que frequento diariamente e que leio por aquilo que têm para me dar: assuntos sugestivos, matérias pertinentes, visões descontraídas e descomplexadas, originalidade e criatividade nas abordagens, simpatia dos interlocutores. Mas, para além das leituras diárias na blogosfera, dedico também muito do meu tempo à leitura de muita coisa que nada tem a ver com blogues ou com visões pessoais do mundo.

Valorizo bastante o tempo que as pessoas dedicam à escrita do que lhes vai na alma, o empenho que põem na construção do texto (nem toda a gente tem facilidade em escrever), e entristece-me quando aquilo que leio é mais do mesmo, ou quando a ideia vai colher inspiração a algo que já foi escrito sem procurar um ponto de vista novo.

Hoje deparei-me com uma daquelas situações chatas que gostaria de não ter detectado. Um dos blogues que leio diariamente escreveu qualquer coisa que eu já tinha lido num outro local. Só mudou o idioma. O autor limitou-se a traduzir um texto que encontrou sobre um determinado tema, e publicou-o como se fosse da sua lavra, sem qualquer referência à origem, fonte, ou autoria. Na prática, "roubou" um texto. Resolvi regressar à página onde tinha lido o texto (o original), confirmei as minhas suspeitas, e mais, verifiquei que afinal o "amigo do alheio" não se tinha apropriado de apenas um texto, mas de dois (que eu tenha detectado). E não vou perder mais tempo, porque quem rouba uma vez pode não roubar a segunda, mas quem rouba duas entra no domínio da recorrência e poderá tê-lo feito mais vezes.

Em Portugal o plágio é considerado crime e pode dar pena de prisão até três anos. Ainda mais num blogue cujo pseudo-autor deixa o aviso de que o conteúdo é propriedade desse (pseudo-)autor e no qual se adverte para a ilegalidade da usurpação de direitos de autor.

Mais me chateia é quando um menino faz cópia, mas copia mal. A tradução do texto tem erros de caracacá. Daqueles de deixar os cabelos em pé ao Vale e Azevedo.

Para saber mais, é só... clicar aqui e continuar a ler...

O texto parece interessante, educativo, elucidativo, fruto de uma mente iluminada. Mais não é do que fruto da chico-espertice de alguém que não quis dar-se ao trabalho de pesquisar e preferiu submeter-se ao brilho dos holofotes servindo-se do trabalho de outros como se do seu se tratasse.

O texto é longo, uma leitura diagonal sobre as duas versões (a cópia aparece a negrito) bastará para detectar a marosca. Seguimos a ordem da versão copiada para verificar as semelhanças (muitas) e as diferenças (escassas) entre as duas.


Culto: Scientology
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Textos sagrados: Dianetics

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Sacred texts: Dianetics





L. Ron Hubbard, o fundador do culto, era um famoso escritor de ficção nos anos 30 e 40. Ele decidiu mudar, e começou a escrever textos religiosos pouco tempo depois de numa entrevista ter afirmado, "escrever por 1 penny é ridículo. Se um homem quer fazer um milhão de dólares, deverá começar a sua própria igreja". No ano seguinte, ele publicou o seu primeiro livro religioso, chamado "Dianetics: A ciência da saúde mental", mais escritos se seguiram e pouco tempo depois deu-se inicio ao culto.

L. Ron Hubbard was a prominent fiction writer during the 1930's and 40's. He decided to make a shift to religious writings after realizing a greater profit could be had. Hubbard stated, "Writing for a penny is ridiculous. If a man really wanted to make a million dollars, the best way would be to start his own religion." The very next year he published his first work. It was called Dianetics: The Science of Mental Health. More writings would follow and soon the origins of the cult emerged.



O fundador desta igreja, foi casado 3 vezes, os seus dois primeiros casamentos acabaram em desastre com a sua segunda esposa, Sarah Northup a acusá-lo de violência doméstica onde incluía espancamentos, estrangulamento, isolamento sem comida nem água e insinuações para que ela cometesse suicídio.


he was a man who was married three times. The major problem with this is that his first two marriages were absolutely disastrous. His second wife, Sara Northup Hubbard, rattled off a list of complaints in the divorce hearings. Some of them were beatings, strangulation, sleep depravation, kidnapping and repeated counseling to commit suicide.



Antes de criar a sua igreja ele era membro da igreja satânica de Jack Parsey, considerada um culto criminoso. Hoje, os seus seguidores defendem-no, dizendo que era um agente infiltrado que trabalha para o governo.


He was involved with a certain Jack Parsley, the leader of a Pasadena satanic group. Members of Scientology defend this by saying that Hubbard was covert-op, and was trying to infiltrate the occult group for the United States government.



Este homem dizia ser um físico nuclear. Dizia que foi mortalmente ferido na segunda guerra mundial e que ressuscitou, não uma mas duas vezes, o que o torna divino. Na verdade ele foi expulso da universidade por chumbos no segundo ano. Ele apresentava um diploma da universidade de Sequóia que a própria universidade diz ser falso. Não existem documentos nenhuns sobre ele alguma vez ter sido ferido durante a segunda guerra mundial.

He claimed he was a highly educated nuclear physicist and that he was mortally wounded during WWII and was raised from the dead not once but twice. This would of course give credit to his divine existence. The trouble with all this is that not only did he flunk out of college after 2 years but his diploma from Sequoia University was a complete fake. Also, there are no records from WWII that give evidence Hubbard was wounded at all,



Hubbard morreu em sua casa como recluso de si mesmo. A igreja recusa-se a aceitar que ele morreu, afirmando que ele abandonou a sua vida terrena, para continuar os seus estudos.

Hubbard died an isolated old man in Creation Calif. in 1986. His members refused to believe that he died from a stroke and stated that he cast off his earthy body to further his research.



A mente. Toda a base da crença religiosa se baseia na mente. O objectivo é de se tornarem uma "clear person" e finalmente num "homo novus". O que é que isto significa?

The mind plays a massive role in the belief system of your everyday scientologist. There ultimate goal is become a 'clear' person. What does that mean?



Bem, a mente é dividida em 3 categorias, Analítica, Reactiva e Somática.

In short the mind is divided into 3 categories: Analytical, reactive and somatic.



A Analítica trabalha sempre na perfeição, não falha, não comete erros. A Reactiva, guarda imagens e memórias das nossas experiências (enagramas). A Somática mantém as funções do corpo.

The analytical mind works perfectly all the time. It never falters or makes a mistake. The reactive mind holds images and memories of our experiences (called engrams).The somatic mind is what keeps the automatic functions of the body working.



O problema é que os enagramas, influenciam o perfeito funcionamento da parte analítica, isto causa depressões, traumas, etc e até doenças mentais. Para se ser uma "Clear person", os enagramas terão de ser eliminados. Isto é feito com uma terapia intensa feita pela igreja e paga pelo crente a peso de ouro, a terapia chama-se "audição". No fundo é como que uma entrevista onde o crente irá usar uma máquina estranha da igreja chamada Galvanomer electrónico e vai falar das suas experiências passadas, que são todas gravadas pela igreja. Este processo poderá demorar anos de tratamentos e podemos chamar-lhe em termos correntes "lavagem cerebral".

The problem is that engrams will disrupt the perfect working analytical mind. Our past experiences and memories actually afflict our otherwise perfect mind. This causes all kinds of mental sickness. For someone to become a clear person, they have identify and eliminate their engrams. Thus, making their analytical mind work without faltering. To eliminate their engrams, the person must undergo intensive therapy using the electronic galvanometer (or E-meter). This device consists of 2 tin cans connected by wires to the meter itself. A therapist will monitor the meter to find any possible engrams. Once an engram has been located, a series of questions and probing will eliminate the mind affecting nuisance. A single person may have hundreds of engrams and will require many years of therapy. Once completed the clear person will have achieved the status as 'homo novus' which is the highest level in their belief systems.



A primeira pessoa a ser uma "Clear person", foi uma estudante de física chamada Sónia Bianca, que após o seu tratamento foi apresentada ao mundo pela igreja como tendo atingido um estado superior de conhecimento, pois todos os seus enagramas foram apagados com sucesso. Ela foi declarada como sendo uma "homo novus". Esta apresentação publica foi um fracasso, pois após algumas perguntas verificou-se que ela não reconhecia as formulas físicas mais básicas e nem mesmo a cor da gravata do homem a seu lado. Ela na verdade estava numa espécie de estado catatónico, onde não tinha experiências passadas e só via a sua crença na igreja. Como se tivesse nascido adulta.

This would seem as good a time as any to comment on the famous blunder of Miss Sonya Bianca; the very first 'clear' person. Hubbard rented out the shrine auditorium for an audience of 4,000 people. The stadium packed out as critics and devout members wanted to see Miss Bianca in action. See was a physics student from Boston who now had absolute perfect recollection and supreme knowledge. All of her engrams were done away with leaving no hindrance to her mind. A few questions into the interview and laughs could be heard throughout the auditorium. When questioned, she didn't know the color of L. Ron Hubbard's neck tie, or recollect some extremely basic physics formulas and failed to answer a variety of basic questions. Severe damage was done the credibility of Scientology and Hubbard that evening. The next day's newspaper's headlines decimated the whole debacle.



Hubbard, define o espírito do Homem pelo nome de 'Thetan'. Um organismo vivo com 80 triliões de anos que vive no nosso cérebro. Ele afirma que os "Thetan" são seres espaciais que entram no cérebro do ser humano quando ele nasce.

Hubbard relates to the spirit of man as a 'thetan.' It is a living organism approximately 80 trillion years old and dwells in our brains. They enter the skull right before the baby is born. It is also noted, says Hubbard, that the Thetans will actually fight over a host body.



Não podemos esquecer que Hubbard era um fantástico escritor de ficção cientifica.

In case you haven't noticed already, but that Hubbard guy was one brilliant science fiction writer.



Como se pode verificar até parece limpinho, até parece um rapazito com as ideias no lugar, muito embora algumas falhas detectadas na composição escrita, e alguns erros na tradução. Mas desfeito o mistério reparamos que se tratava apenas da tradução de um texto alheio, de um plágio.

Mais palavras para quê?

Aqui pode ser encontrada a versão original do texto, a partir do qual a cópia foi feita.

Aqui pode ser encontrado o texto copiado:, já com algumas alterações e com uma série de "fontes" acrescentadas à pressa para disfarçar a marosca e lançar areia para os olhos dos mais incautos.

Se pretenderem espreitar o outro exemplo, aqui fica a cópia, e este o original. É que até para copiar é preciso ser esperto.

Por mim, está tudo dito, a este indivíduo não compraria sequer um carro em segunda-mão.

9.2.09

A vez em que ela o traiu comigo












Já aqui se falou de homens que traem mulheres, já procurámos explicações para o fenómeno da traição do macho sobre a fêmea, já concordámos que as mulheres já não assistem de plateia à absurda escapadela do indivíduo a quem entregaram o coração, e uma série de outros apetrechos, e concluímos que, também elas, são agora parte activa neste jogo social da pisadela (calcadela, dirão os amigos do Porto) dos fundamentos da boa relação, ou dos preceitos do matrimónio segundo a Santa Madre Igreja.

Recuemos uns anos, ao tempo em que ela deu uma facada num bolo que se esboroava, um casamento como tantos outros.

Naquela altura eu era apenas um homem descomprometido como outro qualquer, tinha como hoje a vida organizada e não me preocupavam os assuntos de saias, pois era coisa que se resolvia navegando à vista e sem grandes atritos sentimentais. A protagonista da história conheci-a por interposta pessoa. Fomos apresentados, despidos de formalidades, e à conversa juntámos uma dúzia de sorrisos sinceros, que nos aproximaram e revelaram o estranho que em nós havia.

Mostrou-se uma mulher interessante, longe da sofisticação bacoca que algumas tentam fazer passar, mas com a profundidade de certas personagens femininas do universo de Boris Vian. Sendo ela uma pessoa simples, que ainda hoje merece a minha admiração, senti-me convidado a conhecê-la melhor. Mantivemos o contacto.

Algumas semanas depois combinámos reencontrar-nos. Partimos em busca dessa profundidade, e sem mácula no olhar demos várias voltas à garrafa de coca-cola enquanto procurávamos o caminho marítimo para a felicidade, até que lhe perguntei se desejava aceitar o meu convite para dali partimos até minha casa. O trajecto era longo, sem intenções secundárias de maior que não a de partilhar um instante e prosseguir a conversa num ambiente mais recolhido. O caminho fez-se com a certeza de que o tempo é eterno, não acaba. Chegámos antes do tempo acabar. No saco, uma outra garrafa de coca-cola e aqueles rebuçados de que ela gostava.

A pouco e pouco, a aproximação tornou-se mais "concreta". Uma olhar, um silêncio, uma dança. Um beijo arrancado à proa. E mais beijos que se seguiram. Beijos como poucos que terei recebido, porque há afinal mulheres que sabem conquistar um homem também pela forma de beijar.

Senti que se sentia bem nas minhas mãos. Como igualmente eu me sentia nas dela. Quis o destino que os nossos lábios se encontrassem e se tivessem conhecido profundamente naquela noite, em volta de uns copos de coca-cola. E nada mais sucedeu sob os auspícios daquela lua.

O chamamento da paixão (ou do desejo, ou do que quer que tenha sido) voltou a juntar-nos alguns dias depois. Um fim de manhã, de verão, quente como só os nossos corpos poderiam igualar. O Amor revelou-se, em catadupas de desejo, e naquele momento ela traiu-o comigo.

E naquele momento também eu me senti um pouco traído. Senti que nem sempre a mente e o corpo caminham de mãos dadas, e nem sempre puxam para o mesmo lado. Não mais voltámos a responder aos nossos desejos. Só encontro o sentido deste episódio se reposicionar o meu corpo naquele tempo, se me transportar de armas e bagagens para aquele instante. Senti-me traído por mim próprio, traído nos meus princípios, levado pela força daquele momento. Não aconteceu outra vez. Talvez tivesse gostado que aquilo se repetisse, pelo menos uma vez mais. O dia em que ela o traiu serviu-lhe talvez para se revitalizar, para reinventar a relação, o casamento que se esfarelava conquistou novos trilhos, vai caminhando.

Dos casos de traição feminina de que tenho conhecimento, dos quais este é o único que protagonizo (pelo menos que eu saiba), os casamentos resistiram e prosseguiram. Os homens, os que souberam que foram alvo de traição, perdoaram e escolheram a pessoa que os traiu. Não procuro explicar, mas reflicto sobre isto. Muito se discutiu sobre o facto de o homem trair a mulher (e das mulheres que traem os homens), mas ninguém soube explicar por que razão acontece... e também eu não adivinho.

Beijos e IKEA










Ensinar uma mulher a beijar é como levar para casa um móvel do IKEA. Perdemos uma tarde inteira antes de podermos desfrutar da mobília.

7.2.09

O beijo pastilha










Pouco há de mais decepcionante do que uma mulher que não sabe beijar. Quando se conhece uma rapariga que nos faz libertar faíscas do centro de decisões cardíacas, aquela mulher que há tanto tempo aguardamos, com pensamento articulado, inteligência, beleza interior, beleza exterior, mas que no momento em que os nossos lábios e a nossa língua se preparam para conhecer de perto a essência dessa mulher, simplesmente oferece-nos um beijo que parece que recuámos ao tempo da nossa adolescência e estamos a mascar duas pastilhas super-gorila em simultâneo.

O beijo é a porta de entrada para uma relação feliz. Para além de ser a porta de entrada também para uma série de germes e bactérias. Por muito que tente encontrar explicação, não dá para perceber porque é que a generalidade das mulheres beija tão mal. Será que o primeiro namorado não lhes soube demonstrar como se oferece um bom beijo? A forma como beijam será que as deixa satisfeitas? Será que assistiram às novelas erradas enquanto eram catraias? Viva o beijo. Mas viva o bom beijo, não a contrafacção que por aí anda...

5.2.09

O homem que diz adeus no Saldanha...












Lisboa tem provavelmente as melhores personagens do mundo. Já percorri cidades envolventes, mágicas, sonoras, fantasistas, mas às quais fica a faltar o bater quente do coração deste melancólico cotovelo de rio e mar. Um pouco por todo o lado existem figuras que se desenham em cidades, nunca as busquei, mas jamais encontrei em qualquer outra ilusões como as que esta povoam. Nova Iorque tem o guitarrista folk que se passeia em pelota no frio de Times Square, em Madrid coabita Colombo (que não se mexe e permanece sempre no mesmo sítio), Valência conta com Manolo, Washington tinha o Bush. Lisboa colecciona figuras atrás de figuras, num carrossel quase a atirar para a bichanice. São uma espécie de pionéses cravados no mapa da metrópole. Um elo para um mundo (paral)elo...

A minha figura preferida da cidade de Lisboa é o homem que diz adeus no Saldanha... Quem não conhece este artista que lance a primeira pedra? Pronto, se vivem nessas terrinhas deprimentes, género Mogadouro, Vila Nueva del Fresno, Cuba do Alentejo, Sobral de Monte Agraço, se andam por esses lados por favor deixem-se lá ficar quietinhos com os calhaus.

O homem que diz adeus no Saldanha é uma figura histórica do povoado Lisboa. Dá a sensação de que chegou até nós dos tempos das instauração da República. Compara-se às figuras que fazem nomes de ruas naquela zona da cidade, compara-se ao próprio Saldanha, ao Duque da Terceira, aos Defensores de Chaves, Praia da Vitória, à Cinco de Outubro. É, ele próprio, uma figurinha.

Todas as noites, João sai à rua para ser feliz. Acenar a quem passa é sua a única ocupação. Não regateia cumprimentos. Acena para os carros, para os transeuntes, acena para polícias e para os animais vadios. E vai acenando, também para o concièrge do Sheraton e para o hóspede que não imagina o que se está a passar. Vê os carros em circulação, segura quase sempre um saco de plástico de supermercado. Lá dentro sabe-se lá o quê...

Já o encontrei, já me cruzei com João no El Corte Inglés, observei-o de perto, fixei-me naquele semblante a fazer lembrar figura de cinema português da década de sessenta, ou de pintor do pós-guerra, ou de escritor de romances negros. É uma figura anacrónica, mas não destoa, dilui-se na cidade, porque este é também o tempo dela.

Há uns tempos que não vejo o João, talvez tenha ido acenar para outro lado. Talvez já não acene entre nós. Talvez se tenha cansado e encontrado outra forma de ser feliz. Mas, sempre que passo ali ao Saldanha, não resisto a um acenozinho.

4.2.09

O dia em que me confundiram com um gajo qualquer








Não sei porquê, mas parece ser comum quando se entra num táxi sermos confundidos com alguém que não fazemos a mais pequena ideia quem seja. Não foi a primeira, nem a segunda vez, que entrei num táxi, indiquei o destino, e recebi de resposta um: "o senhor não faz de... naquela série da... que passa a seguir ao..."; isso, ou sermos fisgados com um olhar esquisito, a meio caminho entre o quem acabou de apanhar uma criança que fez asneira, e aquele encantamento tímido de quem não sabe onde pôr a cara quando se sente espantado com alguma coisa.

Sinceramente, não estou a identificar em mim traços que me aproximem de qualquer personagem dessas que pontuam nas pantalhas cá do burgo. Não tenho a boca torta do Miguel Sousa Tavares, não tenho o cabelo espetado do Serginho das Noites Marcianas, não tenho os marmelos pontiagudos da Maya das cartas adivinhatórias. Ou seja (julgava eu) sou um simples anónimo, de quem as ocasiões em que apareceu na televisão já terão sido apagadas, até dos arquivos da RTP Memória.

Mas não, existe afinal quem reconheça em mim alguém que não sou, e há quem queira levar por diante essa convicção:

"Eu gosto de vê-lo"
"Mas o que é que anda a fazer agora... vocês gravam aquilo mas só passa meses depois, não é?"
"Nem sempre vejo, semana sim, semana não, pego no carro às oito."

E não adianta insistir em que nada tenho a ver com tal série, ou novela, que logo me responde "mas olhe que parece..."

Começo a pensar que talvez seja um desbloqueador de conversa, talvez me cruze com taxistas deprimidos, que querem falar e procuram um mote. Talvez achem que poderei dar uma boa conversa. Já apanhei taxistas de imaginação fértil, que claramente inventavam histórias para entreter o cliente. Imaginem, é como entrar numa sala de cinema e à nossa frente ver desfiar-se todo um enredo felliniano, agora com imagens a acompanhar, a TV Táxi, publicidade, anúncios a espectáculos que já aconteceram, ruído, vertigem, o taxista a contar-nos a vida e o fim do mundo em cuecas, Fontes Pereira de Melo, semáforos com falta de ar, falta de pachorra, falta de respostas...

É daquelas situações que se vivem e às quais não sabemos como devemos reagir. Um dia, em Itália, disseram-me que era parecido com um famoso cantor italiano: "O Pavarotti?", perguntei, com alguma ironia. Era um qualquer outro, que nunca cheguei a conhecer, mas que imaginei um clone meu, mas com mais estilo e mais jeito para cantar. Um Tony Carreira qualquer à moda italiana, talvez. Passei o resto daqueles tempos de vertigem transalpina a andar com muito mais cuidado na rua, que nunca se sabe de que esquina emerge o próximo mafioso sanguinolento.

Já faltou mais para me pedirem um autógrafo. E já faltou mais para oferecer um. No final da corrida, assino a factura: "uma rubricazinha aqui, faxabôri"

3.2.09

Porque é que o homem trai a mulher? (II) - Aos ésses pela rua acima

Para trair alguém, é preciso não gostar a sério dessa pessoa. Ou a pessoa traída não gostar verdadeiramente de nós. Quando a traição acontece é porque existem motivos que impelem um ser a dar o passo em frente rumo a esse precipício de preocupações.

Assumi que tinha traído. Se quisesse ser eufemístico diria que a entidade traída não estava devidamente comprometida para poder considerar-se vítima de uma traição. Se o amor arde sem se ver, o que dizer da falta dele... Poderia considerar a minha acção meramente uma troca. Ou, em última análise, poderia dizer que traí o Amor que sentia por alguém.

Sempre que dei esse passo para o abismo, interiorizei que o respeito ou a entrega, de que me sentia credor da parte da pessoa que gostaria de não ter traído, não eram suficientes para que pudesse considerar aquela acção uma traição.

Por vezes não primamos pela inteligência ou pela capacidade de sermos aquilo que gostaríamos de ser, e nessas alturas, quando não espetamos a agulha no ponto certo, provocamos a dor. Quando não temos a capacidade de abrir o coração e explicar o que nos vai na alma, escolhemos o caminho mais fácil, menos pedregoso, e metemo-nos em atalhos, que vão inicialmente dar a campos recheados de amoras silvestres, mas inevitavelmente terminam em lama. Outras vezes abrimos o coração e trincam-nos um pedaço.

Mas quando o Amor acontece, não existe desvio ou contratempo que nos empurre para caminhos fáceis.

Quando, já lá vão uns anos, conheci a S. e em conjunto encetámos a estrada curva da vida, consegui pôr em prática essa premissa fundamental: duas pessoas amam-se, completam-se e não há nesta árvore de fruto espaço para outras ramagens que não as nossas. A relação perdurou enquanto existia a chama do Amor. Já lá vão uns anos, e a S. disse-me que sentia o frio da distância e que o caminho começava a não fazer sentido. Compreendi o afastamento, com a dor pelos ausentes, mas não pude argumentar contra um facto que não poderia fazer alterar-se. Sem o rancor e com a satisfação de ter sido um instante desta vida que cumpriu aquilo que tinha de ser: perfeito, completo, simplesmente humano.

E quanto assim é, não há espaço nem sequer para a traição. E nunca mais houve.

Porque é que o homem trai a mulher? (I) - A teoria da sanita











Ora aí está uma boa pergunta para lhe fazer: homem, porque trais a mulher? É das tais questões que nenhum homem se preocupou em tentar perceber, e é dos assuntos para os quais nenhuma mulher soube encontrar explicação (os outros são, por ordem decrescente de importância: porque é que o homem ganha sempre ao crapô, porque é que apesar da emancipação feminina as mulheres continuam a querer subjugar-se à acção masculina em determinadas acções, porque é que ultimamente ele parece que anda a abichanar.)

Sou daqueles homens que várias vezes mijaram fora do penico. Assumo-o com toda a frontalidade e com todo o respeito que o tapete ao lado do bacio me merecia. E que o próprio bacio me merecia.

Se bem me faço entender, é necessário saber compreender que há mulheres que actuam nas nossas vidas como penicos e há outras (as legítimas) que se comportam com a elevação de uma sanita. E algumas são mesmo de marcas nobres, como por exemplo Valadares.

Com isto quero dizer que há alguns bacios que são voláteis, que andam de um lado para o outro, que tanto estão com o fundo assente no chão, como virados para baixo; e há depois as sanitas, que permanecem sempre no mesmo sítio, que se reciclam com umas puxadas de autoclismo, mas que estão por vezes com a tampa para baixo, outras vezes com a tampa para cima. E isto direcciona o jacto na altura de tomar decisões em hora de aperto.

Um aspecto é preciso levar em linha de conta: um homem nunca se atreverá a cagar num penico, é algo que só consegue fazer numa sanita. A única coisa que pode fazer é mijar para fora dela. E é preciso compreender porquê...

2.2.09

Coisas que se dizem...

Uma coisa que eu nunca disse a uma mulher:

- Tu cheiras a sexo!

Coisas que eu já disse a uma mulher:

- Tu cheiras a frito!
- Tu cheiras a gato!

1.2.09

Ié, ié, faz bebé

Estou seriamente preocupado. Ontem à noite fui assediado por uma gaja. O facto nada tem de extraordinário, não fosse o facto de esta miúda estar bêbeda que nem um cacho.

Acercou-se de mim e deu-me um daqueles encontrões que deveria parecer casual, depois pediu-me desculpa e iniciou uma conversa desprovida de qualquer sentido. Uma rapariga jovem, bonita e bastante produzida. Excessivamente produzida, ao ponto de se aproximar na aparência a uma pintura impressionista. No meio da conversa de circunstância, a chavalita não vai de modas:

- Tu és muito interessante, desculpa-me lá ter ido contra ti... A tua namorada está por aí?...

... enquanto a mão ia procurando alguma intimidade (salvo seja).

A miúda tresandava a uísque (ou então sou eu que ando com o olfacto avariado), destilava uma auto-confiança excessiva que lhe ficava mal e desajustada, e mostrava com aquela atitude que não primava pela capacidade para pensar no óbvio.

A noite prosseguiu, guardei aquele episódio, enquanto ela talvez andasse a lançar o isco em aquacultura alheia.

Dirigia-me para o carro, já a noite ia longa e o dia seguinte era de trabalho, quando sinto um vulto aproximar-se pela esquerda baixa, e um bafo tomar conta do horizonte. Era a pita aos saltos:

- Olá, jeitoso. Sabes uma coisa, foste um querido, queria dar-te um beijo.

- Um beijo?

- Sim, queria compensar-te. Gostava de te fazer feliz esta noite.

Ah, sim!? Então, deixa-me ir dormir. Não disse, mas pensei.

Conclusão: mulheres deste país, sejam mais inteligentes, e sobretudo pensem duas vezes antes de deitarem qualquer coisa à boca. Depois não venham choramingar que fez dói-dói.