28.9.09

A declaração de Cavaco

O que poderá o Presidente da República dizer na sua declaração à comunicação social, ninguém sabe. A minha expectativa é que diga a verdade. É isso que devemos esperar dele.

Nada se sabe sobre o teor da intervenção de Cavaco Silva, mas esta poderá incidir sobre:

1. O PS foi o partido que conquistou mais mandatos parlamentares, no cumprimento do que está expresso na Constituição o Presidente anunciará que vai chamar José Sócrates e convidá-lo a formar governo.


2. As notícias publicadas nos jornais, e que aludem a uma alegada vigilância à Presidência da República, não têm qualquer fundo de verdade.

Qualquer outro que seja o teor da declaração presidencial - admitindo, por exemplo, a existência de suspeitas sobre vigilância a Belém, o que será bastante improvável -, significará a abertura de um conflito institucional sem precedentes na História da democracia portuguesa. Não o faria numa declaração ao país.

A mensagem poderá servir a Cavaco para medir o pulso aos acontecimentos, tendo em vista a recandidatura, mas pode mesmo suceder que Cavaco deixe no ar a sua indisponibilidade para um segundo mandato em Belém.

Seja como for, qualquer dos dois pontos acima citados fragiliza o Presidente. E a falta de um esclarecimento cabal sobre o assunto da vigilância será a morte do artista.

Resumindo, qualquer que seja a postura presidencial perante qualquer dos cenários, Cavaco Silva está tramado.

Resta saber quem urdiu a trama. Mas esse é um esclarecimento que certamente não será a Presidência a revelar.

27.9.09

A visão futurista de Fernando Rosas

Um dos grandes momentos desta noite eleitoral foi o discurso do bloquista Fernando Rosas. Sim, senhor! Foi de valor!

Não é que num rasgo de audácia centralista, o deputado eleito do Bloco de Esquerda chamou aos Açores e à Madeira: "Ilhas Adjacentes" (que por acaso era a designação que lhes era dada no tempo da "outra senhora").

Assim se ensinavam os petizes de então, no tempo em que a Cartilha Maternal de João de Deus pontificava nos tampos inclinados das secretárias de tantos estabelecimentos de Ensino Primário, naquele tempo da nossa História em que o Império se estendia do Minho a Timor... Com que então "Ilhas Adjacentes", sim senhor!

Um mero lapsus linguae ou apenas vícios antigos? Será esta a primeira medida de entendimento entre o novo governo socialista e o reforçado grupo parlamentar do Bloco de Esquerda? Veja lá isso, senhor Rosas, não queira tranformar a plataforma continental adjacente num pólo centralista das elites...

25.9.09

Eleições

Isto não é uma sondagem, nem sequer uma projecção, apenas uma previsão:

PS - 33-35
PSD - 31-33
CDS - 9-11
PCP/PEV - 9-11
BE - 8-10
MEP - 1-2

outros - 2-4
BRANCOS/NULOS - 4-6



Putativo Elenco Governativo

Primeiro-Ministro - José Sócrates
Ministro das Finanças - Teixeira dos Santos
Ministra da Educação - Isabel Alçada
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - Carlos Zorrinho
Ministro da Cultura - Elísio Summavielle
Ministro da Economia - Murteira Nabo
Ministro da Juventude e do Desporto - Laurentino Dias
(Sec. Estado do Desporto - Olegário Benquerença)
Ministro da Administração Interna - Júlio Pereira
Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações -???
Ministro da Agricultura e Pescas - Fernando Serrasqueiro
Ministro do Ambiente -???
Ministro da Defesa -??? Severiano Teixeira ???
Ministro da Justiça - Pedro Silva Pereira
Ministro dos Negócios Estrangeiros -??? Gomes Cravinho ???
Ministro da Saúde - Francisco George

outros ministeriáveis:
Idália Moniz
Fernando Serrasqueiro
Ana Paula Vitorino
António Vitorino

Passagens de Lisboa #6

A delicadeza é efémera, os gestos contundentes, as palavras demoradas. Esquece o instante, perdida no artesanato das letras e engolida na arqueologia da escrita como a vontade de uma personagem que não sabe o trajecto da sua história. Rodeia-se da construção do momento para justificar o erro da memória sem futuro.

O sorriso é órfão. Um filho sem lembrança do passado, à procura de uma herança de futuro. Um cigarro inflamado preso aos seus dedos. E a sabedoria que se esconde por detrás daquela dor incandescente, como quem não ousa revelar e apenas persiste na evidência de um contorno. Assim é Lisboa, paciente, à janela dos dias a ver quando chegam os incertos de Outono. E sempre chegam...

22.9.09

O artista português



Uma das publicações que leio religiosamente desde 2001 é a New Yorker (a tal revista que serviu de inspiração telúrica a Clara Pinto Correia para um dos mais estonteantes plágios fehrianos que fizeram História na imprensa portuguesa).

E sabem que mais? A capa da edição desta semana é uma vez mais de um português. A concepção e realização do trabalho saiu literalmente dos dedos de Jorge Colombo, um artista frenético. E eu dou-lhe os parabéns pelo resultado.

Somos punks ou quê!?

O Punk já não é o que era...

Muitos fãs estarão porventura chocados e outros até já terão feito em pedacinhos os cartões de sócio do clube de fãs.

Este fim-de-semana, a TV7Dias escancarou imagens comprometedoras de Tim, o mítico baixista e - há até quem diga - vocalista da histórica banda Xutos e Pontapés.

Nessas fotos, Tim (que é mais ou menos o nome que todos os punks ambicionam ter) aparece às compras de mão dada com a família, com umas sandálias de ir ao pêssego e umas calças de gosto duvidoso em tom amarelo, pejado de cornucópias que aparentam floreados.

Mas o que e isto!? Mas o que é isto, meus amigos!?

Somos punks, ou somos pinks?



Neste vídeo do programa de hoje dos Gato Fedorento, Tim (o pink) surge ao minuto 9:00 tecendo uma muito pessoal análise ao estado da campanha...

Mas chamo a atenção para o que está antes: ao minuto 8:25, José Sócrates surge em acção de campanha, colando-se ao discurso proferido 14 anos antes por Durão Barroso (8:30).

Plágio fehriano ou apenas convergência política?

21.9.09

Senhor Engenheiro

Não percebo a insistência no tratamento dado ao primeiro-ministro, secretário-geral do Partido Socialista e candidato a chefe do governo por "Senhor Engenheiro".

Em contraposição, por exemplo, à forma de tratamento dado ao secretário-geral do Partido Comunista, Jerónimo de Sousa, por "Senhor Jerónimo".

Quando, na verdade, um é tão Engenheiro quanto o outro.

Ele é "Senhor Engenheiro" para aqui, "Senhor Engenheiro" para ali, "Senhor Engenheiro" para acolá.

Tecnicamente - que não subjacente à anglofonia técnica do interlocutor - José Sócrates não é Engenheiro.

Teria, para tal, de estar inscrito e vinculado à Ordem profissional correspondente, sujeito a quesitos e prova de admissão, como tantos engenheiros civis, electrotécnicos, navais, químicos. Com trabalho efectivo nas respectivas áreas. Licenciados. Em dias da semana. Úteis.

Para os outros casos, de gente habilitada com o diploma de bacharel, ou até mesmo licenciados mas não inscritos na Ordem profissional, sugiro a criação de uma Ordem dos Engenhocas.

"Senhor Engenhocas" para aqui, "Senhor Engenhocas" para ali, "Senhor Engenhocas" para acolá...

Engenheiro Bruno Costa

20.9.09

Isto é contigo!

Amigo: se tens ambições em chegar a Jinga, se o teu sonho é um dia num jantar de amigos poder dizer que já colaboraste em Jinga (vulgo: um sabujo de um bufo à beira de apanhar um ganda pifo), se tens alguma informação que consideres importante sobre Jinga, contacta-nos. Traz numa mão o teu bloco cheio de notas à moda de um treinador modernaço, na outra mão o teu bloco de cimento, e nos membros inferiores um tornozelo livre. Anda saltar connosco, miúdo, vinde mergulhar nas profundezas do oceano em busca da galera perdida de Jinga. Não sabes o que é Jinga? Oh, diacho... E vieste cá precisamente com o propósito de saber o que é Jinga mas os tipos que mandam neste folheto informativo tardam em esclarecer-te e, inclusive, perguntam se tens alguma informação decisiva sobre algo que eles próprios não souberam ainda explicar o que é? Tens então duas alternativas, mancebo: ou bem que voltas cá quando nesta nação terminar o clima de guerra alcoólica importado por uma invenção macaca chamada semana académica eleitoral; ou bem que nos ajudas a completar o puzzle Jinga, enviando as tuas preciosas informações para o recanto que arranjámos para te ajudar a depositar angústias, indignações, passes mágicos para o maravilhoso mundo de Jinga.

19.9.09

Esmiuçando as escutas

Quando disse que esta campanha ia ser só rir, não estava a referir-me directamente ao programa dos Gato Fedorento, ao qual tão lestos e precisos todos os políticos portugueses estão a aderir. Parece que descobriram de um momento para o outro que uma certa ideia de descontracção também pode dar votos. Da maneira como está o país, o melhor é mesmo levar isto na descontra.

Mas o programa dos Gato Fedorento ao lado do que têm sido os factos e argumentos de campanha é uma espécie de Camilo, o Pendura em confronto com os Monty Python, sendo que só o brilhantismo destes será capaz de concorrer com o nonsense dos vários acontecimentos que têm minado os últimos dias de confronto eleitoral.

Escutas e casos

Coscuvilhar e intrigar a vida alheia sempre foram actividades muito portuguesas. E continuarão a ser, se Deus quiser.

Não invoco aqui o nome de Deus em vão. Ele é o Tal que é omnipresente e omnipotente. E como se verifica, há situações em que um contacto próximo com Ele dá um jeito enorme.

A campanha tem sido um fartote de rir. Desde os "mais papistas que o papa" militares da GNR da Coina, que multaram e apreenderam viaturas da caravana socialista por falta de documentação em ordem, para dois dias depois um senhor da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, por acaso dependente do Ministério da Administração Interna, ter dado ordem para libertar as viaturas e devolver o valor da coima pago pela contra-ordenação. Dois dias depois. E ainda dizem mal deste Governo. Oxalá toda a Justiça fosse igualmente lesta.

O caso do telejornal silenciado, ou o das pressões aos juízes do caso Freeport, ou até a tentativa de incursão do SIS (sob a alçada do Governo) nas investigações sobre eventuais fugas de informação no mesmo caso Freeport.

E depois o caso dos dinheirinhos para os "novos militantes" do PSD a troco de um voto na eleição para a distrital de Lisboa. Uma notícia que caiu sabe-se lá de onde, a poucos dias das eleições. Um balão de ar que sucumbiu logo ao final da noite, quando foi destapada a primeira página do DN da manhã seguinte.

O caso promete brindar-nos durante muitos e bons dias com novos espasmos de risota, até porque quase tudo está por explicar: como foi possível correspondência trocada entre jornalistas do Público ter ido parar, no mesmo dia e sabe-se lá por alma de quem, a dois jornais concorrentes? Esta é apenas a última pergunta entre tantas que estão por responder.

Encomendar a alma ao diabo

A notícia do Diário de Notícias surpreende-me. Jornalistas (do DN) publicam correspondência privada, trocada entre outros dois jornalistas (do Público), sem qualquer sentido ético ou respeito pelo sigilo profissional dos seus colegas.

Não só os jornalistas do DN destapam uma fonte que deveria permanecer anónima, como publicam correspondência privada entre jornalistas profissionais que nem português correcto sabem escrever.

Mas sobretudo acusam o Público de publicar uma notícia encomendada (apenas porque uma fonte lhes faculta informação), expondo-se o próprio DN à possibilidade da mesma acusação, a de trazer a público uma notícia encomendada (afinal, também alguém lhes facultou informação, alguém que não sabemos quem foi.) Encomenda por encomenda, sempre prefiro a do Público.

Eles andam aí

E sempre andaram. E se no tempo do cavaquismo tudo era feito às claras e as suas movimentações eram facilmente identificadas, desencadeando consequências mais ou menos directas, agora actuam na penumbra e as consequências são invisíveis a e bem mais devastadoras. Aqui há tempos, a Visão publicou um interessante artigo em que denunciava que José Sócrates pretendia criar uma nova polícia secreta, "uma espécie de secreta privada do primeiro-ministro". Dizia-se até que já funcionaria no edifício do Conselho de Ministros.

O primeiro-ministro espigou-se, mas depressa o balão esvaziou e nunca mais se ouviu falar disto. (Parece que desde então a Visão se tem portado bem, e agora até já tem direito a receber a brochura publicitária da RAVE, aludindo às virtudes dos comboios de alta velocidade.)

Júlio Pereira é o homem que toca este cavaquinho. É um homem da confiança do primeiro-ministro, coordenador do SIRP, a entidade que engloba os serviços de informações, e que responde directa e exclusivamente a uma entidade, o primeiro-ministro. Há pouco mais de um ano, o seu nome chegou a ser falado para se ocupar do cargo de secretário-geral de Segurança Interna, mas à última hora o primeiro-ministro terá recuado e Júlio Pereira continua à frente das secretas. Vá-se lá perceber os motivos.

18.9.09

JINGA!!!

Em breve, neste local e a uma hora bastante improvável, a visita guiada ao alucinante mundo de Jinga. Uma vasta equipa de escribas e seleccionadíssimas fontes vêm trabalhando afincadamente, dia após dia (e, não raras vezes, noite após noite), para levar até si este que, embora desconhecido, vai transformar-se num dos mais fascinantes e intrigantes episódios da História fofinha de Portugal.
Tornou-se já, o acontecimento Jinga, mais do que numa mitificação, numa realidade roliça. Mais do que um fenómeno do imaginário popular, Jinga é toda uma atitude, todo um perfume de mulher, todo um queijo. Toda uma linha de cosméticos, também.
Em breve, neste local e a uma hora bastante improvável. Enquanto a cidade vive na euforia de mais uma espécie de semana académica eleitoral, com churros, bombos e coiratos, os nossos colaboradores trabalham cheios de pundonor para, logo em que cessem as festividades e a calma volte a reinar nas margens do rio, se faça emergir o mito, se conquistem em definitivo os corações de todos os que se arrogam de não sentir o feitiço de Jinga.

Estamos a chegar lá... Jinga existe.

16.9.09

Jinga...

Jingabé Jingabé Jingalódeué!

Está quase...

10.9.09

Esta campanha continua a ser só rir - a "máscara"



As imagens são dos bastidores do debate entre José Sócrates e o "maroto" Francisco Louçã. Falam por si, e permitem entender as diferenças de atitude e presença quando os holofotes e o crivo mediático se acendem. Resta tentar perceber quem atirou estas imagens para o domínio público, se os assessores de José Sócrates ou os de Manuela Ferreira Leite.

Recordam-se quando o Guterres se engasgou nos números do PIB. Nesse dia, ele venceu as eleições. Porque demostrou uma face humana, de cidadão que também se engana, com dúvidas e fraquezas. Contra o poder vigente de alguém que os media quiseram fazer crer que raramente se enganava e nunca tinha dúvidas.

Não deixa de ter alguma graça, esta espécie de diálogo, à laia de aquecimento psicológico entre treinadores antes do início do grande jogo.

6.9.09

Esta campanha vai ser só rir...

"A política internacional deste governo define-se em dois adjectivos: subserviência e conivência"

Jerónimo de Sousa, discurso de encerramento da Festa do Avante

Tanto professor no desemprego e não haveria um para tratar da revisão do texto?