3.2.09

Porque é que o homem trai a mulher? (II) - Aos ésses pela rua acima

Para trair alguém, é preciso não gostar a sério dessa pessoa. Ou a pessoa traída não gostar verdadeiramente de nós. Quando a traição acontece é porque existem motivos que impelem um ser a dar o passo em frente rumo a esse precipício de preocupações.

Assumi que tinha traído. Se quisesse ser eufemístico diria que a entidade traída não estava devidamente comprometida para poder considerar-se vítima de uma traição. Se o amor arde sem se ver, o que dizer da falta dele... Poderia considerar a minha acção meramente uma troca. Ou, em última análise, poderia dizer que traí o Amor que sentia por alguém.

Sempre que dei esse passo para o abismo, interiorizei que o respeito ou a entrega, de que me sentia credor da parte da pessoa que gostaria de não ter traído, não eram suficientes para que pudesse considerar aquela acção uma traição.

Por vezes não primamos pela inteligência ou pela capacidade de sermos aquilo que gostaríamos de ser, e nessas alturas, quando não espetamos a agulha no ponto certo, provocamos a dor. Quando não temos a capacidade de abrir o coração e explicar o que nos vai na alma, escolhemos o caminho mais fácil, menos pedregoso, e metemo-nos em atalhos, que vão inicialmente dar a campos recheados de amoras silvestres, mas inevitavelmente terminam em lama. Outras vezes abrimos o coração e trincam-nos um pedaço.

Mas quando o Amor acontece, não existe desvio ou contratempo que nos empurre para caminhos fáceis.

Quando, já lá vão uns anos, conheci a S. e em conjunto encetámos a estrada curva da vida, consegui pôr em prática essa premissa fundamental: duas pessoas amam-se, completam-se e não há nesta árvore de fruto espaço para outras ramagens que não as nossas. A relação perdurou enquanto existia a chama do Amor. Já lá vão uns anos, e a S. disse-me que sentia o frio da distância e que o caminho começava a não fazer sentido. Compreendi o afastamento, com a dor pelos ausentes, mas não pude argumentar contra um facto que não poderia fazer alterar-se. Sem o rancor e com a satisfação de ter sido um instante desta vida que cumpriu aquilo que tinha de ser: perfeito, completo, simplesmente humano.

E quanto assim é, não há espaço nem sequer para a traição. E nunca mais houve.

11 comentários:

Patrícia Villar disse...

"Sempre que dei esse passo para o abismo, interiorizei que o respeito ou a entrega, de que me sentia credor da parte da pessoa que gostaria de não ter traído, não eram suficientes para que pudesse considerar aquela acção uma traição."

Pois, assim é tudo mais fácil não é?! Trai-se porque o outro não esteve à altura...simples.

Como sabes tu que a entrega do outro(a) não era mais que aquilo que podiam ou conseguiam dar?

Bruno disse...

Pois é, Patrícia, são situações complexas. Nos casos concretos, não se tratava de a outra parte não poder ou não conseguir dar, mas tão somente de não estar interessado, não querer, não encarar a questão como algo importante.

Porque é que consideramos mijar fora do penico uma traição, e não se considera uma traição ao valor do sentimento essa ausência, ou o jogo que por vezes se pratica em algumas relações, quando um diz que está mas na prática não está, quando na prática todas as acções vão para o lado contrário daquilo que seria de esperar?

Se calhar é também traição.

Caso para dizer que "não f... nem sai de cima", sendo que nestes casos as ausências nada tinham a ver com foder, mas com outros aspectos que eu considero importantes em igual medida, ou até mais.

Mas nada desculpa as minhas acções. A minha consciência de que não deveria tê-lo feito é o pior castigo. Se o tivesse feito e achasse que estava cheio de razão, seria igualmente mau (ou melhor, consoante as pessoas).

Mas já lá vai o tempo, porque vamos passando por diversos estádios e compreendendo-nos melhor, e compreendendo melhor os outros. Cada vez menos existe a possibilidade de tal acontecer. E a verdade é que não aconteceu mais.

Afrodite disse...

Hmmm podias fazer um post sobre "porque cada vez mais, traiem as mulheres os homens, sem dó nem piedade?"...ao que responderia...porque passaram uma vida inteira a verem as avós, as mães, as tias, as primas a serem enfeitadas :). Agora deu-se a revolta e a facilidade com que as mulheres o fazem é assustadora não é? Friamente e sem dó nem piedade. Os homens pensam que a sanita não se mexe mas afinal é apenas um penico ambulante que segura todas as pingas que lhe apetece e que quer :)! É a vida, uma analogia desmedida!
Hoje ouvi um comentário vindo de uma mulher que achei interessante :), aqui partilho contigo: "Um homem é como um jardim, só fica bonito com flores"...referindo-se ao enfeite da cabeça do mesmo :). Achei piada, mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Quantos hoje em dia querem uma mulher à "séria" para atinarem e recebem o tratamento que deram vezes sem conta a outras??? Justiça...talvez! Cá para mim e na minha modesta opinião, que por acaso vai de encontro a uma das tuas, quando existe O Amor...não há espaço para traições, o tempo é de tal maneira preenchido pelo outro que nem há espaço para mais nada. A mente é de tal forma ocupada que "venham elas" ou "eles", não entra nada :). O sentimento de "estar completa" é tão...que não é necessário procurar mais :). Quando isso acaba é que é a trampa total...ai sim faz falta a sanita. Como se deitam fora os sentimentos contruidos neste tipo de relação??? Valeu a pena a dedicação??? Hmm eu diria que sim, agora sei que sim. Se doi? Pois doi...se me arrependo de não ter traído a pessoa que amei? Nunca! Há pessoas e pessoas, as tais que não merecem ser enganadas, o tapete perfeito hehehehehhe. Depois há as outras pessoas que precisam é de flores.
Aiii que não sei se me expliquei muito bem...falta de dormir e saber que tenho o que fazer. Não podia deixar de te comentar ;)!

Abreijinhos e espero ter feito sentido

Patrícia Villar disse...

Bem, se não voltou a acontecer, pode significar que tenhas crescido e aprendido que há outras formas de se lidar com situações como a que descreves.

Em qualquer dos casos, e em minha opinião, uma traição nunca é desculpável, arranjes os motivos que arranjares, até a posso compreender, mas não acho um acto desculpável. Há outras formas de se lidarem com as situações sem faltar ao respeito ao outro...porque acima de tudo, uma traição é uma tremenda falta de respeito.

Quando não se está bem numa relação, apenas há uma coisa a fazer, acabar com ela, no caso de realmente não haver qualquer outra solução.

E isto não é falso moralismo...

afectado disse...

estava a pensar no que iria comentar mas ao ler o último comentário da patrícia achei que poderia usar umas palavras delas e assim fazer o meu comentário:

Há outras formas de se lidarem com as situações sem faltar ao respeito ao outro...porque acima de tudo, uma traição é uma tremenda falta de respeito.

Quando não se está bem numa relação, apenas há uma coisa a fazer, acabar com ela, no caso de realmente não haver qualquer outra solução.


claro que eu sei que o mundo não é perfeito e os erros acontecem. mas estas palavras que citei da patrícia são o que eu penso.

Moi disse...

O conceito de traição pode ser de tal modo vasto que seria necessário muito mais que posts e comments para tal definição. Nesse teu caso, parto do princípio (provavelmente errado) que se tratou da tradicional traição sexual. E aqui, acreditem ou não, tenho dificuldade em considerar como traição uma mera troca de fluidos. Terei uma mente demasiado aberta...

Bruno disse...

Olá, Moi! Toi, portanto.

Bons olhos te vejam.

No que se descreve neste post tratou-se de traição de índole sexual, mas nunca nada se limita a esse aspecto, porquanto ninguém é apenas um pedaço de carne, e encetar uma relação não é propriamente como ir até ao talho, açougue como se diz lá no Brasil.

Considero uma mera troca de fluidos uma traição com a mesma importância de outras. Mas não é a única forma de trair, e foi aqui que sempre se construiu o equívoco. É que trair, em meu entender, não é só quando aquilo entra naquilo.

Mas há tanta forma de trair e que é encarada como algo normal, embora provoque eventualmente um dano maior do que a pinocada em seara alheia.

O Amor implica entrega. Implica darmo-nos a alguém: a nossa confiança, o nosso coração, uma boa parte de nós. E quando se trai o sentimento nem é preciso que haja mais ninguém.

Bruno disse...

Patrícia, concordo contigo. O problema é acabar.

Mas como já referi, uma traição não significa apenas engalfinhar-nos com um terceiro.

Apetece perguntar, como devemos lidar com aquelas pessoas que estão com um pé fora e outro dentro de uma relação, ou que num dia estão com os dois pés numa relação e no dia seguinte com nenhum e no dia seguinte com os dois outra vez, apetece perguntar se isso é também traição, e por que motivo essas pessoas não botam um ponto de fim numa relação que encaram como superficial e que vivem apenas a tempo parcial.

Bruno disse...

Afro, dite!

Não creio que um erro justifique outro erro para compensar o primeiro.

Como não creio que uma crueldade justifique outra.

Se o pai bate no filho, então o filho deve bater nos netos, e por aí adiante?

Se esperamos que a civilização progrida para algo positivo, então não creio ser esse o caminho mais indicado.

Claro que cada pessoa é livre de fazer o que entender.

A traição não nasce do nada. Ninguém acorda num magnífico dia de sol e diz assim, hoje vou trair alguém.

Mas é também assustador termos a noção de que paredes-meias connosco há pessoas que têm como filosofia guardar alguém que dão como garantido, e andar depois a cirandar em flor em flor. Não tem desculpa.

Bruno disse...

Afectado (e Patrícia),

a traição é uma falta de respeito, concordo em absoluto. E não tem desculpa. Por isso, a minha atitude não tem desculpa. Mas há que ver também o outro lado. Só é desrespeitado quem não se dá ao respeito. E acontece muitas vezes que uma das partes da relação, ou até as duas, não se dão ao respeito.

Isto nada tem a ver com a perspectiva de quem trai (esse merece ser fustigado, castrado e outras coisas acabadas em "ado" e "ido"), mas com a de quem é traído e desrespeitado.

Bruno disse...

Traçando uma análise e uma reflexão mais gerais à questão levantada nestes dois posts, reparo que à pergunta "Porque é que o homem trai a mulher?" ninguém apresentou resposta. Todos nos preocupamos muito com a traição que acontece, ninguém gosta, mas também ninguém soube dar resposta. Porque compreender isto ajudaria a evitar que tal sucedesse.

Como reparo também que toda a gente se referiu à questão da "traição", mas a questão que referi de ter encontrado o "Amor" e de ter assimilado que só ele faz sentido, quase ninguém referiu.