23.12.09
Feliz Navidad, diz ele em grego
16.12.09
Avatar em 3D
Fui assistir à antestreia do novo filme de James Cameron, deram-me para as mãos um par de óculos que me puseram com um aspecto que mais parecia o Roy Orbison e lançaram-me para dentro do universo da estereoscopia cinematográfica. Dizem eles que isto é o futuro, que a partir de agora vai ser sempre assim. Dizem eles que este filme estará para o cinema como o Magalhães esteve para o sistema de ensino português, seja lá o que for. Não, eles não dizem isso. Eles nem sabem o que é o Magalhães.
Depois de quase três horas de nariz para o ar a ver figuras e objectos serem disparados na direcção dos meus braços, diria que a fórmula se esgota em alguns aspectos primordiais: os truques de Cameron para criar a ilusão de profundidade são repetitivos; assistir a um filme 3D numa tela de cinema de dimensões limitadas à parede frontal da sala é a mesma coisa que ouvir uma sinfonia de Beethoven tocar num rádio de loja chinesa.
Quanto ao resto: o enredo é uma fábula relativamente fraca.
13.12.09
Benfica e o génio de Jorge Jesus
O Benfica arrisca passar o Natal no terceiro lugar do campeonato, atrás de Sporting de Braga e Futebol Clube do Porto. Muitos serão levados a questionar que motivos profundamente irracionais levam o adepto benfiquista (aquele adepto tão dado a viajar entre estados de fúria e momentos de êxtase), desde uma fase tão precoce da temporada, a manifestar uma histeria tão desmedida e um elogio unânime e inquestionável ao cavalo branco, Jorge Jesus. Estranho a euforia que reina nas hostes encarnadas e os epítetos com que a visão acrítica da imprensa desportiva cataloga o desempenho dos jogadores do Benfica nesta edição da liga.
Na próxima jornada o Futebol Clube do Porto visita Lisboa. Uma vitória dos azuis empurra o clube do milhafre para o lugar mais baixo do pódio. Se nos lembrarmos que na época passada o Benfica conquistou o título fátuo de campeão de Inverno – uma evolução daquilo que tinha sido nas épocas anteriores o abono familiar do museu encarnado, a recorrente conquista do título de campeão do defeso –, é lícito concluir que, em período homólogo, a performance do mal-amado Quique Flores quedou-se uns valentes furos acima do desempenho, para já vago, do idolatrado Jorge Jesus. Na última temporada, Quique Flores chegou ao final da primeira volta em primeiro lugar; este ano, Jorge Jesus arrisca-se a ultrapassar a metade da época numa pouco prestigiante e frustrante terceira posição.
Não há que enganar: se um se destaca pelo intenso esbracejar, por mascar maços inteiros de pastilhas super-gorila de uma forma quasi desbragada, já o espanhol, senhor de patilha grossa e filho de boas famílias, distinguia-se pelo porte fleumático, que em Portugal o terá levado a conquistar uma Taça da Liga com o peito, e uma Orsi com um par deles.
A fauna benfiquista está em alerta, mas, passe o que passar, a tribo dos pastilhas já conquistou o seu campeonato, e Jorge Jesus um lugar na História. Se o Futebol Clube do Porto vencer no próximo fim-de-semana no Estádio da Luz, todos têm razões para ficar contentes. O FC Porto porque arrisca ser líder, o Sporting de Braga porque pode manter-se em segundo lugar lutando por uma posição de acesso à Liga dos Campeões, o Benfica porque o terceiro lugar é um dos primeiros da fila e a equipa está a jogar um futebol brilhante à Mister Jesus... e o Sporting porque se mantém acima da linha de água.
Há fenómenos que eu não entendo. E um deles é este, o de encomendar com esta antecedência as faixas de campeão, mesmo antes sequer do meio da temporada.
Nota final: das bancadas do Estádio do Dragão, os petizes gritam para dentro do relvado, chamam pelos ídolos, chamam pelo Hulka!
11.12.09
O olhar das palavras
Catching the big fish
Hoje estou em apneia...
10.12.09
Jorge Colombo, arte na ponta dos dedos
2.12.09
O prefácio do proémio
«A ideia do proémio, confesso-o, mantive-a até ao derradeiro instante no rascunho que deu vida a esta espécie de pecado original. Era o que melhor me soava, havia nele algo que lhe conferia proximidade humana: Noémio, o boémio. Mas a proposta, que eu julgava um recurso final irrefutável, acabou por ser alvo da rejeição do meu editor, por ausência, dizia-me, de fôlego comercial:
“Um gajo abre o livro nesta página, lê o cabeçalho da tua introdução, fica a rir-se de ti e prefere ir ler os plágios dos outros”, concluía o homem, franzindo o sobrolho e mascando uma chicla, enquanto pegava noutro dos muitos manuscritos que diariamente aterravam na sua mesa de trabalho:
“Coma”, disse-me ele.
“Não tenho fome”, respondi.
“Nada disso: Coma, o próximo grande sucesso mundial, depois de 2666”, explicou-me, apontando o dedo para o nome do autor daquele esboço de obra-prima: Abrunho Plagiehr, o temível auto-intitulado Escritor da Wikipedia.»
1.12.09
Verdades e consequências
Não sei se tu és, mas eu não cultivo esse hábito. Não tenho o costume de fugir à verdade. Tenho com ela uma relação estimada, muito próxima, quase carnal. Somos amantes inseparáveis, acicatamos frequentes burburinhos sexuais mútuos, somos a carne de um e a unha do outro, e só nos chateamos quando eu preciso mesmo dela e ela me foge numa criminosa isenção de auxílio à vítima. Com a outra, não me dou nada bem. É uma amante desprezível, com a qual não consigo fomentar qualquer outro sentimento que não o de repulsa, a resvalar para os compartimentos do ódio. A verdade é doce. A irmã é acre. Infelizmente, provo-a com a certeza de que deveria estar imune aos receios que ela me traz.