A resposta não tardou. Pipoca mergulhou nos textos bloguísticos de MacDonaldo e veio de lá com uma selha pejada de críticas, e algumas cruéis como punhais:
"estes teus textos, deixa-me dizer-te, meu revolucionário de cabaré, estão escritos com os pés. Com a parte de trás dos pés. E textos escritos com os calcanhares só podem resultar em exercícios redundantes e ineficazes".
E atirou meia-dúzia de exemplos que fizeram MacDonaldo ficar mais corado do que uma bandeira do PCP:
MacDonaldo escreveu: "a prova evidente" - Pipoca respondeu: "mas é evidente que toda a prova o é. Não há prova que não prove, logo, que não evidencie. E isto é básico. Evidente, diria."
MacDonaldo enterrou a boina pela cabeça abaixo. E Pipoca crepitou um pouco mais:
MacDonaldo escreveu: "Há dois mil anos atrás" - Pipoca respondeu: "fiz um aturado esforço mental para tentar vislumbrar alguma situação que pudesse ter acontecido há dois mil anos à frente. Mas não encontrei. É óbvio que só poderia ser há dois mil anos atrás, 'atrás' é desnecessário, logo, a expressão é redundante, logo, pleonástica, logo, básica, logo, para deitar fora."
As pontas do bigode revolucionário de MacDonaldo eriçaram-se. E Pipoca prosseguiu:
MacDonaldo escreveu: "A ameaça de Chavez há uns tempos atrás" - Pipoca respondeu: "se fosse há uns tempos à frente estaríamos diante de uma concessão metafísica da revolução bolivariana."
E Pipoca papagueou um pouco mais ainda:
MacDonaldo escreveu: "um fenómeno que, gradualmente, vai assumindo proporções preocupantes" - Pipoca respondeu: "Ó Otelinho de trazer por casa (de chinelo anacrónico), se o fenómeno vai assumindo proporções, é claro que é gradualmente. Isto parece-me relativamente simples, simplificadamente simples."
E concluiu com um tiro de mestre, o qual deixou MacDonaldo com a mesma cara dos oficiais do MFA quando souberam que os operacionais da PIDE iriam ter direito a reformas concedidas pelo Estado Português:
"tu abusas dos 'seus', 'suas', 'seu', sua', abusas dos 'pois', abusas do 'a qual', 'o qual', 'as quais', 'os quais'. Falta qualquer coisa à tua escrita, e depois lanças-te aos meus erros de concordância, tão queridos..."
Para quem não entende o alcance desta revanche do pipocal, recorda-se a indignação de MacDonaldo depois de ler a crónica de Pipoca, que versou esta semana o universo das mulheres castas e continentes, em clara alusão a algumas virgens ofendidas que pululam na casa.
MacDonaldo e as críticas à escrita de Pipoca: "há aqui uma série de erros, os quais devem ser, pois, denunciados:"
Pipoca escreveu: "não há qualquer garantia que um homem romântico, daqueles que oferece flores e cede sempre a passagem". MacDonaldo respondeu: "isto está tudo errado, atingimos o grau zero da língua portuguesa. Se é daqueles homens românticos, é dos que oferecem flores e cedem a passagem. Aqueles é plural. A bem da concordância, o verbo deve responder ao sujeito e ir na onda do plural".
Pipoca crepitou e foi corando. MacDonaldo cravou mais fundo o punhal da indignação:
Pipoca escreveu: "Desconfio que 97% das mulheres já não sabe onde pára o homem com quem foi para a cama pela primeira vez." MacDonaldo respondeu: "estes erros são dignos de uma feira do bizarro gramatico-fehriano. Se estamos a falar de 97 em cada 100 mulheres, estamos a falar de mais do que uma. Por isso, essas 97 em cada 100 não sabem onde pára o homem com quem foram para a cama pela primeira vez."
Pipoca saltou do panelão. E cheirou a estorricado.
Pipoca escreveu: "Como diria um amigo meu, a menos que as comecem a recrutar numa escola primária". MacDonaldo respondeu "A menos que comecem a recrutá-las numa escola primária, menina Pipoca, já era tempo de adocicar a sua escrita com menos deslizes gramaticais"
E continuaram, numa acesa e interessante discussão sobre os atentados à língua portuguesa, perpetrados por um e por outro, mas também por outros concorrentes da casa. Só o Rafeiro não teve problemas gramaticais: "eu ladro sempre em ré sustenido", afinou.
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