«A ideia do proémio, confesso-o, mantive-a até ao derradeiro instante no rascunho que deu vida a esta espécie de pecado original. Era o que melhor me soava, havia nele algo que lhe conferia proximidade humana: Noémio, o boémio. Mas a proposta, que eu julgava um recurso final irrefutável, acabou por ser alvo da rejeição do meu editor, por ausência, dizia-me, de fôlego comercial:
“Um gajo abre o livro nesta página, lê o cabeçalho da tua introdução, fica a rir-se de ti e prefere ir ler os plágios dos outros”, concluía o homem, franzindo o sobrolho e mascando uma chicla, enquanto pegava noutro dos muitos manuscritos que diariamente aterravam na sua mesa de trabalho:
“Coma”, disse-me ele.
“Não tenho fome”, respondi.
“Nada disso: Coma, o próximo grande sucesso mundial, depois de 2666”, explicou-me, apontando o dedo para o nome do autor daquele esboço de obra-prima: Abrunho Plagiehr, o temível auto-intitulado Escritor da Wikipedia.»
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