9.3.10

O nariz de Sócrates

“Este PEC é tão bom, tão bom, que é impéque.”

Como é que eles fazem isto? O primeiro-ministro chama a imprensa às oito da noite e fala aos súbditos da nação. O tema é sério, é o PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento), uma espécie de Viagra para as contas públicas. Um vinagrete do caralho, digo eu. O chefe do governo disserta então sobre a importância da estabilização do défice e comunica os pontos principais deste PEC: “não vai haver aumento de impostos.” E eu pergunto, como é que eles fazem isto? O primeiro-ministro repete-o até à exaustão: “não vai haver aumento de impostos”, e uma vez mais, “não vai haver aumento de impostos”… e outra ainda, “não vai haver aumento de impostos”“com excepção de uma nova categoria de IRS para pessoas com mais rendimento”. Não vai haver aumento de impostos, mas, afinal… talvez haja um pequenino aumentozinho de impostos, ou algo do género. E eu pergunto, como é que eles fazem isto? Como é que eles conseguem pô-lo com aquela cara de varapau a dizer que não vai haver aumento de impostos, sabendo-se que vão ser reduzidos os limites dos benefícios fiscais para a chamada classe média, ou que os rendimentos colectáveis superiores a 150 mil euros anuais vão ser taxados numa categoria agravada de IRS a 45%. Como é que eles fazem isto? Qual é o truque, pergunto eu? Como é que eles conseguem pôr o primeiro-ministro a dizer uma coisa e simultaneamente a dizer o oposto sem que lhe cresça o nariz. Expliquem-me como conseguem? É que tem de haver marosca…

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