10.11.09

A sustentar calinadas no 24 Horas há mais de 1300 euros

É sempre com um enorme prazer e uma não menor expectativa que chego ao meu posto de trabalho na segunda-feira de manhã e me lanço sobre a edição do jornal 24 horas. Ele determinará o que posso ou não esperar da minha semana.

Se a edição de segunda-feira alcançar o nível desejado, então a minha semana será elevada aos píncaros da espectacularidade. Se estiver mal concebida, mal enjorcada, fechada à pressa e pejada de equívocos e de fotografias de agência ou de festas com personagens-que-ninguém-conhece-só-para-encher-papel, então a minha semana vai com toda a certeza ser uma merda.

E esta segunda-feira não fugiu à regra. Cheguei ao local de trabalho, descalcei os chanatos e pus os pezinhos ao fresco dentro de duas socas Birkenstock.

Folheei então com agrado as páginas iniciais do pasquim-vinte-e-quatro-horino... aquela história fantástica do Jorge Jesus ao lado do Cróife, desenterrada do cemitério das histórias ocultas do futebol português, nem o Stóitjecóve se lembrava da personalidade fulgurante do nosso JJ. Só acho relativamente abusivo dizer que aquele estágio em Barcelona transformou a carreira do Jorge Jesus. Isso não é factual, e acho que o jornalismo deve guiar-se pela busca do que é concreto, mas isto sou eu que digo, que nada entendo dessa profissão de artistas bem pagos e com vidas de glamour e ostentação.

Bem me esforcei, mas o dia não estava para grandes leituras. Até porque logo na primeira página fui tocado pela comoção, depois de ter lido a frase do Rogério Samora, acerca da morte da avó no mesmo dia em que ele completou 50 anos, quando diz: "Se não fosse ela, talvez eu não tivesse nascido". Se não fosse a avó dele, o RS não teria nascido. E se o Rogério Samora tivesse rodas... seria um segway. E isto sim é factual.

Era este o cenário que estava traçado para a minha manhã quando tentei mergulhar a fundo nas primeiras páginas do 24 Horas.

E devo confessar que fiquei ainda mais confuso quando, na página 28, choquei de frente com um texto sobre os "humoristas" do Telerural. Eles queixam-se do provedor do telespectador da RTP.

Até aí tudo bem, até os humoristas do Telerural têm o direito a manifestar-se num jornal de referência como o 24 Horas. O 24 Horas não pode ser apenas um repositório de notícias sérias ou de aprofundadas análises sobre a conjuntura económica internacional, nem pode ser apenas um palco de extensas dissertações sobre o universo cultural de elite da RTP2. É preciso alargar o espectro e saber chegar a todos os públicos.

É por isso legítimo questionar o subtítulo desse texto, que revela que os guionistas do referido programa estariam descontentes com o Provedor do Telespectador, espaço conduzido por um "paquete". Tentei perceber se estariam a falar de um "paquete", um navio de grandes dimensões, que circula entre as Caraíbas, o Mediterrâneo, e o arquipélago da Madeira... ou se o "paquete" que conduz o tal programa do Provedor seria um "paquete" daqueles que distribuem encomendas ou são pagos à jorna para fazerem recados. Uma espécie de Bruno Fehr mas com miolos na caixa encefálica em vez de titica de galinha ou de laudas de referências googlianas amarfanhadas em bolas de papel. Consegui perceber que o "paquete" a que se refere a notícia é o paquete do Oliveira, o que me deixou na mesma. Verifiquem lá isso, e depois digam-me quem ou o que é o tal paquete, para eu tentar entender o que se passa.





























Mas mais perturbado fiquei quando saltei para a chamada zona VIP... Aquela em que surgem as pessoas ditas bonitas, espectaculares, as pessoas "tásse" (de tásseachandoumagrandemerda). No canto superior esquerdo da página 38 aparece a fotografia mais enigmática de toda a edição do 24 Horas: o garboso jornalista da TVI, Sousa Martins (não confundir com aquele que comunica directamente com a Pomba Gira Linda Reis, e que tem direito a estátua no Campo de Santana, junto à Faculdade de Medicina), acompanhado de alguém do sexo masculino com aparência bastante "alternativa"...

A legenda mostra um enigmático "O jornalista da TVI, Sousa Martins, foi com a namorada Marta Wahnon ao aniversário do Joalheiro Gil de Sousa".
























Não acham a legenda só um bocadinho desadequada? Onde está a Marta Wahnon? Será esta personagem que está agarradinha ao Sousa Martins? Estará no bolso deste homem que, entre outras coisas, faz também broches? Não percebo, sinceramente.

É que dar 75 cêntimos todos os dias para ficar neste estado de confusão está a sair-me caro: por mês são 22 euros e meio, o que perfaz ao longo de um ano 270 euros, o que ao longo de cinco anos dá mais de 1300 euros. Meus amigos, eu não ganho para sustentar as vossas notícias que deixam por esclarecer aspectos fundamentais da vivência humana e que determinam o karma de uma semana de trabalho, e não esperem que vos mande levar no "paquete", amanhã estarei de novo com mais 75 cêntimos a voarem da carteira à espera de novas surpresas, novos karmas, novas viagens.

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