8.5.09

GP: Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto

Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada

António Lobo Antunes com música de Vitorino, álbum editado em 1992, Eu Que Me Comovo Por Tudo E Por Nada


(apenas uma das composições deste disco não tem letra de A. Lobo Antunes. Ele, o disco, e ela, esta música, serviram de inspiração para o título dado a este blogue. Quanto ao Coronel Sensível e ao Monsanto referidos no título da canção e do post - e antes que alguma mente mais insensível procure estabelecer ligações - nada têm a ver com quaisquer figuras do concurso. Apenas o bolero estabelece relação com o Grande Primo: o que se passa entre algumas figuras da casa é digno do Trio Los Panchos, uma espécie de Trio Odemira à moda porto-riquenha.)

3 comentários:

... disse...

Um dos momentos pedófilos de Lobo Antunes o qual te inspirou. Acho preocupante para os pais que te rodeiam.

Bruno disse...

Querias saber escrever assim, não era? Talvez noutra encarnação.

Destila para aí a tua inveja à vontade.

Anónimo disse...

"Um dos momentos pedófilos de Lobo Antunes o qual te inspirou."

Comentário no mínimo básico. No máximo parvo. Na média estúpido.