7.3.09

Magalhanês










Abrir um daqueles portáteis de baixo custo que se entregam às crianças nas nossas escolas pode revelar-nos grandes surpresas: a reportagem de Filipe Santos Costa no Expresso revela toda uma nova série de vocábulos e construções ortográficas, sintácticas, gramaticais, que podem encontrar-se num dos programas educativos instalados no Magalhães.
"Há palavras repetidamente mal escritas, outras inventadas, verbos mal conjugados, vírgulas semeadas onde calha, acentos que aparecem onde não devem e não estão onde deviam."

Não é para admirar. A tradução do tal programa foi feita por um emigrante com a 4ª Classe, ou seja, praticamente as mesmas habilitações dos potenciais utilizadores do Magalhães. Claro, isto interessa apenas àqueles que se preocupam com a língua; para quem não tem preocupações a esse nível acaba por ser indiferente.

"Quando acabas-te" de ler isto, podes seguir para a notícia e ficar a saber mais. Se não quiseres fazer isso agora, podes "continuar-lo" mais tarde:

A reportagem do Expresso.

6 comentários:

alfabeta disse...

Não se fala noutra coisa, agora na televisão, ainda hoje estou à espera de dois.

Bruno disse...

Nunca senti o chamamento do Magalhães, é muito pequeno, o monitor é pequeno, as teclas são pequenas, até as capacidades são pequenas. Até ao outro dia quando estava a preparar a viagem de verão, e a pensar como poderia ser interessante levar um computador portátil. Um computador com aquelas dimensões, leve como é, e resistente como dizem ser, é o ideal para calcorrear o mundo.

Pax disse...

Também já não me admiram os erros.
Parece que cada vez tem menos importancia a forma como escreve quem tem (ou teria) obrigação de saber escrever. A teoria parece ser: desde que se deduza o que quer dizer...

:)

Bruno disse...

Gosto da teoria, Pax. "Desde que se deduza o que quer dizer."

Faz-me lembrar uma cena que vivi hoje. Fui curtir a noite amena, fui jantar fora bem cedo e rumei depois até à Torre de Belém de máquina às costas, para falar com os pescadores e lançar uns disparos no obturador sob o manto da noite aluada.

E reparei em algo interessante, que ainda não tinha notado.

A Torre de Belém tem uma réplica à escala de 1:50, que reproduz integralmente o monumento, para que cegos possam com as mãos admirar a Torre.

Só que no terraço da torre uma das ameias da vertente Leste está em falta (alguém arrancou ou terá caído por si). Quem com o tacto tentar decifrar a configuração da Torre, só poderá deduzir aquela ameia em falta, pela presença das outras ameias e das aberturas correspondentes.

É um pouco o que se passa com a língua. Falta um acento gráfico e está tudo normal, escreve-se "contracto" em vez de "contrato"... "estive-se" em vez de "estivesse"... "a maioria estão" em vez de "a maioria está"... "à 15 anos" em vez de "há 15 anos" (já para não falar do "há 15 anos atrás", como se fosse possível "à frente"), e o povo acha normal os pontapés, porque mesmo vesgos conseguiremos lá chegar com uns apalpões.

Ou talvês deve-se dizer xegamos lah k uns apalpões...

Pax disse...

Bruno,
Já agora, uma opinião minha:

Eu tenho as minhas noções de correcção muito próximas das tuas. Inclusive na tua tão batalhada forma de colocar as virgulas. Também acho que isso é o correcto.
No entanto, separo algumas situações: quem tem a obrigação de bem saber escrever/falar (como professores, jornalistas, pessoas formadas em língua portuguesa) e a quem me custa admitir e aceitar erros pois esses exemplos que referes são flagrantes e o minimo que teriam de ter feito ao longo da sua formação seria perceber as diferenças entre um "justifica-se e um "justificasse" e os demais que (embora eu ache que deveria fazer parte do orgulho de cada português conhecer com correcção a sua língua), não têm como função a sua transmissão pelo que, ainda que o não façam do modo mais correcto, não lhes consigo atribuir isso como obrigação.
No entanto, acho que o problema é que muita gente perde tempo a assimilar que um "k" é um "que", aplicando um esforço voluntário para escrever mal, o que acho de uma burrice extrema. Burrice de quem o faz e burrice de quem permite que seja feito.

Por outro lado, a quem aqui escreve umas frases ou comentários com erros, (seja por ignorância ou lapso), não consigo criticar. Talvez faça mal porque, desse modo, poderia aprender mas... não vejo em tudo o que é escrito o mesmo grau de responsabilidade e cuidado que pretendo ver num manual, num livro, num jornal ou numa outra qualquer publicação.

O caso da réplica da Torre é mau. Essa Torre é um manual.

:)

Bruno disse...

Pax,
claro que a obrigação de tratar bem a língua parte de cada um. Se Fulano não trata a língua com o respeito que ela merece simplesmente porque não está para aí virado, se Cicrano não consegue aprimorar o tratamento da língua porque não tem conhecimentos para tal, não devemos criticar.

Como não gosto de ser criticado por não conseguir dar o efeito correcto na bola branca num jogo de snooker. É um defeito meu, é uma incapacidade, sou trengo a tentar dar aqueles efeitos.

Mas também não me atiro aos outros por eles também não saberem pôr a bola a rodar como deve ser.

O mesmo se passa com as críticas que possamos tecer a quem faz da língua portuguesa um campo de mortandade, uma espécie de cenário de LaLys da ortografia e da gramática portuguesa.

O que me incomoda é que alguém se ache no direito de se lançar ferozmente contra outro que trata mal a língua, quando essa pessoa é recorrente no assassínio às mais básicas regras da escrita em português. Criticar quando se faz igual ou pior 'não é de bom tom', como diria uma amiga minha.

E já dizia o Camões: "quem tem telhados de vidro, não atira pedras ao olhos dos outros."

E este Camões era d'Olhão.