26.2.09

O meu táxi de hoje

Nem tinha dado por ela, já íamos na Gago Coutinho e estavam a bater os traços sonoros da hora certa. Taxista que se preze leva o rádio sintonizado na Renascença, no Rádio Clube, ou na M80. Fazem-se acompanhar por radialistas encartados, de vozes delicodoces, que durante tardes a fio, sem o saberem, afundam anos de carreira, desautorizados pelos tons estridentes das meninas da RETÁLIS, a porfiar por um táxi à Praça da Alegria, e por outro ao Colégio Manuel Bernardes, espera o Menino João, a crédito. Andar de táxi em Lisboa é uma aventura que nos leva a reequacionar a premência das teorias construtivistas. Um mundo paralelo banqueteia-se a bordo de estofos e tablier de um Mercedes 190D de 1988. E nesse mundo tudo é perfeito. Tudo bate certo. Tudo anda sobre quatro rodas. Mesmo quando o aço húmido desafia o universo e contra as leis da relatividade quer conquistar um espaço de alcatrão maior do que deve. Não é incomum sentir-me um alienígena dentro de um táxi, com a pressa de chegar ao destino para o meu passeio espacial. Hoje senti-me um pouco mais: como reagir quando deixamos a nossa vida nas mãos destes diletantes da verbena automobilística e o senhor das notícias na rádio nos presenteia com histórias como esta? Talvez assobiar para o lado. Foi o que fiz.

4 comentários:

Patrícia Villar disse...

Já pensaste em mudar de transporte??

Bruno disse...

O meu transporte é o carro particular. Mas em horas mais complicadas e dentro da cidade de Lisboa muitas vezes opto pelo táxi. Não se perde tempo à procura de sítio para estacionar, em geral são rápidos, esquivos, andam por cima de toda a folha. E são nichos de mercado para a análise sociológica.
Os outros transportes implicam algum desconforto, perda de tempo para chegar a uma paragem / estação, espera pelo transporte, chegada ao destino, caminhada da estação / paragem até ao destino final. E os taxistas, tirando os desonestos, são malta cheia de pinta.

Pax disse...

Eu acho que na próxima reencarnação vais ser taxista!
Só podes!

Ahahahahahah

:)

Bruno disse...

Cada vez mais gosto de andar de táxi. É como entrar numa dimensão diferente.
Não ultrapassa ainda o comboio como meu meio de transporte preferido, mas está ganhar pontos.
Gostaria de ser taxista por um dia. Acho que um gajo quando pega naquele volante forrado a bombazine e quando mira aqueles tapetes no tablier torna-se um homem diferente. Por um dia gostava de ser condutor de táxi.